Malce - Memorial Pontes Neto

Como nasce uma exposição: o trabalho contínuo de educação e memória do Malce

Por Ana Vitória Marques
22/09/2025 14:38 | Atualizado há 2 dias

Compartilhe esta notícia:

Equipe do Malce reunida Equipe do Malce reunida - Foto: Pedro Albuquerque

Andando pelos espaços da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), você já deve ter percebido as exposições de curta duração sobre temáticas diversas, que contam com painéis, textos e imagens, além de outros recursos táteis e visuais. Essa iniciativa faz parte do trabalho contínuo que o Memorial Deputado Pontes Neto (Malce) realiza para educação e memória da história do Estado e do povo cearense. 

Produções como essas não nascem do dia para noite ou, mesmo, em poucos dias. Para conferir tudo pronto e montado, como a exposição "Alece 190 anos: a Casa do Povo", são necessários meses de planejamento e de pesquisas, parcerias, organização e montagem. 

Por falar nisso, a exposição que aborda os 190 anos da Alece fica disponível até o dia 26 de setembro. Não percam a oportunidade de conhecer mais sobre a Casa do Povo.

Nesta matéria, vamos conhecer quais as etapas de construção de uma exposição de curta duração na Casa. 

Etapas de construção 

De acordo com o coordenador do Malce, Paulo Roberto de Carvalho, o equipamento conta com duas exposições: a permanente e as de curta duração.

“As exposições de curta duração tratam de temáticas correlacionadas à história da Alece, não só sobre a perspectiva política, mas também sobre a perspectiva social, cultural, artística. Então todas essas abordagens, todos esses recortes fazem parte da nossa atuação". 

Foto: Pedro Albuquerque

O gestor ressalta ainda que o trabalho de produção e divulgação dessas exposições, sejam por convites ou por meio do programa “O Parlamento e sua História”, que recebe visitas de estudantes e fazem parte do planejamento estratégico da instituição. 

“Nós precisamos, portanto, ficar muito atentos a tudo que está no nosso entorno, do ponto de vista estratégico, do ponto de vista político, do ponto de vista da nossa missão, que é não só manter, como desenvolver a história do Parlamento cearense”, diz. 

O curador Miguel dos Santos, servidor da Casa que se juntou ao Malce em 2024, vê no trabalho uma missão estimulante. “Tem sido muito instigante trabalhar no Memorial, porque ele tem uma função importante de contar a história do povo cearense, aliando história e arte. As exposições são formas de comunicação com a sociedade, que permitem que o povo se enxergue aqui dentro da Assembleia Legislativa”, reflete.

Miguel dos Santos, curador do Malce. Foto: Pedro Albuquerque

Para ele, a dimensão cultural da Alece fortalece a cidadania. “O legislativo não é só fazer leis e fiscalizar. A cultura é essencial nessa comunicação com o povo e isso tem guiado minha visão dentro do Memorial”, conclui.

Arte: Núcleo de Publicidade da Alece

Realizar uma exposição de curta duração é um processo de várias etapas de construção, como aponta o infográfico de modo simplificado, e pode levar até um ano de planejamento e organização até o lançamento final, quando conta também com a cobertura dos veículos de Comunicação da Casa. Além dos passos apontados no infográfico, faz parte desse processo a formação dos educadores do Malce que acompanharão as visitas. 

Reforçando a cidadania e preservação da memória na Alece

O investimento na realização de exposições de curta duração possui propósitos educativos e aproximam a sociedade cearense da memória política e cultural do Estado, buscando o sentimento de pertencimento e, em muitos casos, a participação social. 

Para a servidora do Malce, Ignez Feitosa, que participa da condução e produção dessas mostras, a valorização da história é essencial para fortalecer a identidade cidadã. 

Ignez Feitosa, servidora do Malce. Foto: Pedro Albuquerque

“Quando você conhece a sua história, você se torna um cidadão fortalecido, porque sabe quem é e qual é a sua origem. Você se sente parte disso”, afirma. 

Ela relembra a reação de uma criança durante uma visita escolar pelo programa "O Parlamento e sua História", que revela o impacto da educação museal que complementa a formação cidadã. “No final, emocionada, ela disse: ‘tia, eu não sabia que o Ceará tinha história. Estou tão feliz em saber que o meu Ceará tem história’. Então você percebe que as pessoas gostam e precisam saber dessas informações”, destaca.

Alunos visitam exposição “Veredas do Sertão”, em 2019. Foto: Máximo Moura

Ignez também chama atenção para a necessidade de transformar o olhar sobre o patrimônio local. “O Ceará e Fortaleza, particularmente, têm uma característica que eu acho triste. O antigo, muitas vezes, é confundido com o que não presta, algo a ser derrubado e substituído. Mas quando você conhece e reconhece suas raízes, passa a perceber que esses elementos carregam valor social, cultural e até econômico”, observa.

O historiador e pesquisador do Malce, John Alves, ressalta que as exposições são ferramentas de aproximação entre o público e a memória do Parlamento cearense. “As exposições têm um papel fundamental na promoção da cidadania e da educação. Elas oferecem à sociedade ferramentas para refletir sobre política, cultura e história, aproximando as pessoas de uma memória construída ao longo de quase dois séculos”, explica.

John Alves, historiador e pesquisador do Malce. Foto: Pedro Albuquerque

Para ele, os formatos dinâmicos e interativos tornam a experiência ainda mais transformadora. “Por meio de abordagens lúdicas, conseguimos romper com a ideia de que o conhecimento histórico é distante ou abstrato. Quando o público é estimulado a refletir sobre política, história e patrimônio cultural, compreende melhor seu papel como cidadão”, conclui.

Servidores do Malce: experiências marcantes na construção de exposições

As exposições de curta duração promovidas pelo Malce não só aproximam o público da memória cearense, como também marcam profundamente os servidores envolvidos em sua construção.

A servidora Ignez Feitosa relembra duas experiências emblemáticas: “A exposição ‘Veredas do Sertão’, sobre a cultura do vaqueiro, foi muito bonita. Contamos a história do Chico Neto, um vaqueiro que virou cobrador de ônibus em Fortaleza e não deixou sua identidade de lado. A partir da mostra, ele ganhou visibilidade, publicou livros de cordel e conseguiu expor em outros lugares. Foi a primeira vitrine que ele teve”, recorda.

Exposição “Pandemias que Afetaram a História da Humanidade”, de 2022. Foto: Paulo Rocha

Outro momento de grande impacto foi a mostra sobre pandemias, realizada após a Covid-19. “Nela, homenageamos servidores da Casa vítimas da doença. Foi muito difícil ouvir os depoimentos das famílias e resgatar essas histórias. Extremamente marcante, porque mexeu com todos nós”, completa Ignez.

Para Victor Oliveira, a conexão do público com a memória coletiva é o que mais o toca. “A exposição ‘Veredas do Sertão’, em 2019, foi uma das mais especiais. Além da riqueza do acervo sertanejo, percebemos como os visitantes se conectaram. Muitos compartilharam lembranças da infância e experiências de vida no campo. É mágico saber que uma mostra pode despertar memórias tão profundas”, afirma.

Exposição “Veredas do Sertão”, em 2019. Foto: Máximo Moura

Alece 190 anos: a Casa do Povo - foco na interação entre sociedade, história e arte

Neste ano, o Malce lançou a exposição “Alece 190 Anos”, que segue aberta até o dia 26 de setembro para visitação no Espaço Deputado Tomaz Brandão, conhecido como Espaço do Povo. A mostra revisita a trajetória da Casa do Povo e sua relação direta com a sociedade cearense, conforme Miguel dos Santos.

“A gente fez essa pesquisa tentando trazer outros fatos e outros pontos de vista para essa mesma história. Então, a gente trouxe algumas figuras que ou não eram conhecidas ou não eram tão valorizadas. A gente tentou trazer também coisas do cotidiano da Casa que também são importantes”, explica.

Foto: Rodrigo Carvalho

Segundo o coordenador do Malce, Paulo Roberto de Carvalho, a mostra foi pensada para destacar como a participação social influenciou os rumos do Parlamento estadual. “O recorte é muito específico, voltado para a sociedade e para como ela influenciou inúmeras discussões que aconteceram aqui na Assembleia Legislativa, resultando em leis, alterações constitucionais e deliberações a partir dessa integração com o legislativo”, ressalta.

Já o curador da mostra, Miguel dos Santos, buscou dar ênfase à dimensão artística e visual da exposição, ampliando a experiência sensorial dos visitantes. “Mesmo com dificuldades de material, optei por painéis grandes, que oferecem um campo de visão mais amplo e dialogam melhor com o público. Além das imagens, trouxemos artefatos para ouvir ou interagir, porque 190 anos merecem algo marcante”, explica.

Foto: Pedro Albuquerque

Miguel destaca ainda o cuidado em valorizar elementos simbólicos da história cearense, como os cocares tradicionais representando a luta indígena ou a jangada utilizada em referência ao movimento dos jangadeiros, ligado à luta abolicionista. “Quando vi essa peça no acervo do Museu do Ceará, pensei logo: ela precisa ter destaque. A jangada é um elemento próximo, que chama a atenção e convida o visitante a dialogar com a exposição”, afirma.

O uso de imagens e outros recursos permitem que os visitantes possam trilhar seu próprio roteiro pela exposição, com liberdade imaginativa e focando naquilo que chama mais atenção para cada pessoa. Além disso, nesta mostra foram explorados recursos de acessibilidade, inovação que deve seguir nos próximos roteiros para contemplar todas as pessoas. 

 

Edição: Samaisa dos Anjos

 

Núcleo de Comunicação Interna da Alece

E-mail: comunicacaointerna@al.ce.gov.br

Página: https://portaldoservidor.al.ce.gov.br/

Quer participar da nossa lista de transmissão no WhatsApp? Adicione o número 85 99717-1801 e nos mande uma mensagem.

Veja também