Lei busca esclarecer sobre riscos da maternidade precoce
Por ALECE15/03/2021 18:29
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica como gravidez precoce aquelas que ocorre entre os dez e 19 anos de idade. Estas gestações são consideradas de alto risco pela pouca idade das mães, que em muitos casos não têm o sistema reprodutivo totalmente amadurecido. Além disso, podem desencadear problemas sociais e biológicos.
Calcula-se que há 7,3 milhões de adolescentes chegando à maternidade, a cada ano, em todo o mundo. Destas, pelo menos dois milhões não ultrapassaram a idade de 15 anos. No Brasil, 300 mil bebês são gerados anualmente por mães entre 12 e 17 anos, idade não recomendável para a maternidade, pela OMS. Os dados indicam que 68,4 crianças são geradas por grupo de mil meninas adolescentes.
A maioria das jovens que engravida abandona os estudos para cuidar do filho, o que aumenta os riscos de desemprego e dependência econômica dos familiares. Esses fatores contribuem para a perpetuação da pobreza, baixo nível de escolaridade, abuso e violência familiar, tanto à mãe como à criança. Além disso, a ocorrência de mortes na infância é alta em filhos nascidos de mães adolescentes.
A situação socioeconômica e a falta de apoio e de acompanhamento da gestação (pré-natal) contribuem para que as adolescentes não recebam informações adequadas em relação à alimentação materna apropriada, à importância da amamentação e sobre a vacinação da criança.
Sobre a Semana Estadual de Prevenção de Gravidez na Adolescência
Com o objetivo de levar esclarecimentos à população, a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou a Lei 17.282, de iniciativa da deputada Érika Amorim (PSD), que foi sancionada pelo governador Camilo Santana (PT) e publicada no Diário Oficial do Estado de 15 de setembro do ano passado, instituindo a Semana Estadual de Prevenção de Gravidez da Adolescência.
De acordo com o dispositivo legal, a data será realizada na primeira semana do mês de fevereiro de cada ano. Ela tem como objetivo disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência, tendo passado a constar do Calendário Oficial de Eventos do Estado do Ceará.
Para a deputada Érika Amorim, o trabalho de conscientização deve ser dinâmico e amplo, levando clareza sobre as responsabilidades e os desafios que cuidar de uma criança representa na vida de uma pessoa. Com relação às adolescentes com idade inferior a 14 anos, a deputada avalia que se faz necessário ampliar os debates para combater o estupro com violência presumida, visto que, em regra, relações sexuais nesse contexto serão sempre criminosas. "É preciso ouvir nossos adolescentes, combater o machismo desde a infância e orientar nossas meninas a se proteger e priorizar um futuro estável, com saúde física e emocional. A informação é nosso principal recurso nessa batalha", esclarece.
Experiência de vida
Natália Porto, 37 anos, que integra a equipe de Mídias Digitais e de arquivos da TV Assembleia, viveu a experiência de engravidar aos 16 anos. Por isso, ela considera bastante relevante a nova legislação que se propõe a educar e prevenir os adolescentes com o objetivo de evitar uma gravidez não desejada, "sabendo que, esta pode trazer uma serie se consequências com as quais o adolescente não saiba lidar".
Ela conta que quando engravidou não tinha informação alguma. "Nunca conversava isso com meus pais. Aliás, eles nunca falaram sobre este assunto comigo. Então, foi de acordo com o que eu achava que sabia. Não utilizei preservativo, pois para mim isto seria impossível de acontecer e, com menos de um mês da relação, eu senti que estava grávida. Não porque algo no corpo mudou, até porque seria pouco tempo, mas uma intuição. Quando completei um mês da relação, fiz o exame de farmácia, que deu positivo. Mas, para se ter maior certeza, fui fazer o exame beta HCG, o que deu 100% de certeza que eu estava grávida", recorda.
Com o resultado em mãos, ela disse que não sabia o que fazer. Era uma experiência absolutamente nova e inesperada. "Queria abortar, mas na hora seguinte queria ter, e o tempo foi passando, Quando completei três meses, criei coragem de falar para minha mãe, pois não tinha mais como esconder, uma vez que minha barriga já estava aparente", pontua.
Natália revela ter dado a notícias aos prantos, aguardando a pior reação possível da mãe. "Graças a Deus, tive o melhor apoio, porém, quando contei, minha mãe falou que se eu quisesse poderíamos abortar. Eu fiquei naquela. Esperei mais umas semanas e fui me acostumando com minha barriguinha crescendo e já tendo um amor enorme. Então, depois de uma decisão certa, eu disse: ‘Não, mãe! Eu quero ter’. Minha mãe ficou do meu lado e ficaria seja qual fosse a minha decisão. Ela só tinha medo de eu perder toda minha adolescência, pois, não poderia fazer as programações que os adolescentes faziam. Eu ia cuidar de uma criança enquanto meus amigos viajavam, saiam. Mas assim, segui com minha decisão", frisa.
O passo seguinte foi contar ao pai. "Senhor. Que medo! Mas, ele teve uma reação que eu jamais esperei vindo dele. Foi a melhor reação de todas. Ele apenas disse: ‘Filha, papai vai estar do seu lado. Pode contar comigo’. Enfim... como não ter tido uma gravidez tranquila?! Impossível", sorri, confessando que ao fazer o relato se emocionou ao ponto de os olhos ficarem cheios de lagrimas.
Nova realidade
Com a escolha consciente pela maternidade, era só esperar chegar as mudanças. E mudou tudo, nas palavras de Natália. "Tive que ir da fase pré-adolescente para adulta sem passar por fases de crescimento, de evolução e maturidade. Fui obrigada a ser adulta, pois tinha um serzinho ali que dependia de mim para sobreviver. Mas, posso dizer que levei de boa e que foi tranquilo. Minha filha veio para mudar minha vida, me fazer ser uma pessoa melhor", admite, em referência a Beatriz.
E a realidade também apresentou a sua conta. Queria viajar e não podia ir, queria sair e não dava porque estava amamentando, ou a filha estava doente ou porque acordava muito na madrugada "Enfim, eu não tinha a liberdade que eu gostaria, que um adolescente gostaria. Mas, claro, minha mãe me ajudou muito", enfatiza. Em muitas oportunidades, chegava a dizer: ‘filha, pode sair, eu fico com ela. Qualquer coisa te ligo’. E aí, algumas vezes, depois de uns meses, dava pra dar uma fugidinha rápida. Consegui ter muito jogo de cintura, e deu tudo certo", recorda.
Mudança de planos
Uma das perdas na vida da então adolescente foi o impedimento de fazer intercâmbio cultural fora do país. "Quando descobri que estava grávida, pouco mais de um mês, meu pai queria que eu fizesse um intercâmbio e, sem saber como dizer que não poderia ir por conta da gravidez, fui enrolando. Depois, falei a verdade, claro. Não tinha como protelar", afirma.
O mundo à sua volta também se modificou com a gravidez. Os olhares em ambientes públicos tinham se transformado. "As pessoas te olham, te julgam, mas isso nunca me atingiu. Sempre mantive a cabeça erguida e bem confiante comigo mesma. Na verdade, eu tinha, naquela época e não no presente, orgulho de ter sido mãe tão nova. Me sentia o máximo", assegura a mãe de Beatriz.
Quanto ao seu relacionamento, Natália conta que o pai, assumindo a paternidade, não chegou a casar com ela, com o casal tendo permanecido junto só até os quatro meses de vida de Beatriz. Também explica que passou por momentos que jamais imaginou antes da gravidez. "Não tem como a gente saber. É tudo novo. Nenhuma mãe, seja ela adolescente ou adulta, sabe como serão seus próximos dias. Mas, de uma coisa tinha certeza: seriam dias de muita luta, sacrifício, doação e muita entrega. E assim foi", define.
Mesmo com todas os desafios enfrentados, Natália confessa nunca ter se arrependido de sua escolha pela maternidade. Agora que eu tenho, meu bebê, que já não é mais bebê, de 20 anos", afirma em meio a risos. "Não faria nada de diferente. Depois que você tem a filha, difícil dizer se faria algo diferente, assegura.
Mas, sem dúvida, admite que se tivesse mais e melhores orientações sobre a gravidez, como as que estão previstas na lei estadual, talvez tivesse evitado algumas dificuldades. "Não tive orientação alguma ou nenhum tipo de informação na escola ou algo do tipo. O que a gente sabia naquela época era o que conversávamos com os amigos e íamos descobrindo sozinhas", relata. Neste sentido, a Semana Estadual de Prevenção de Gravidez na Adolescência se propõe a preencher essa lacuna, em benefício das futuras mães e filhas.
JS
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