Agenda Cultural

Filme As Horas aborda com delicadeza o tema suicídio

Por Júlio Sonsol
12/09/2024 17:30 | Atualizado há 6 dias

Compartilhe esta notícia:

Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep protogonizam o filme de Stephen Daldry Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep protogonizam o filme de Stephen Daldry - Foto: Divulgação

O suicídio é uma triste realidade que atinge o mundo todo e gera grandes prejuízos à sociedade. De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. Em busca de mitigar os casos e propiciar uma melhor saúde mental à população, foi instituída a campanha Setembro Amarelo, em 2013.

Esta questão é abordada pelo filme As Horas (The Hours), de 2002, dirigido por Stephen Daldry.  É um convite ao público a fazer uma viagem profundamente emocional, nesta adaptação para as telas do romance homônimo de Michael Cunningham. A produção se concentra na vida de três mulheres de diferentes épocas, todas ligadas, de alguma forma, à obra literária Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Com um elenco estelar que inclui Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep, o filme explora temas universais de solidão, depressão, suicídio e a luta interna de cada personagem em busca de sentido e propósito na vida.

A película segue três narrativas paralelas em diferentes épocas. Na década de 1920, vemos Virginia Woolf (Nicole Kidman) lutando contra sua saúde mental enquanto escreve Mrs. Dalloway. Na década de 1950, Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa infeliz, lê o romance e se confronta com sua própria insatisfação com a vida doméstica e o casamento. E nos dias atuais, Clarissa Vaughan (Meryl Streep) vive em Nova Iorque e está organizando uma festa para seu amigo Richard (Ed Harris), um poeta moribundo que a apelida de "Mrs. Dalloway", uma clara referência à personagem de Woolf.

A forma como o filme entrelaça as três histórias é um dos seus maiores triunfos. Segundo o crítico Roger Ebert, a narrativa cuidadosamente orquestrada cria um senso de continuidade emocional entre as personagens, mesmo que elas nunca se encontrem diretamente. O tempo e o espaço se desdobram de maneira fluida, refletindo os temas do romance de Woolf, onde o passado, o presente e o futuro parecem coexistir dentro da mente humana. A estrutura do filme, que poderia parecer confusa em mãos menos habilidosas, é conduzida com uma clareza notável, permitindo que o público acompanhe facilmente as três linhas temporais.

Retrato de Virginia Woolf

Um dos aspectos relevante de As Horas foi a atuação de Nicole Kidman como Virginia Woolf. A atriz, que normalmente é associada a papéis glamorosos, se transforma completamente para o papel da escritora atormentada. Kidman usa uma prótese nasal para se parecer mais com Woolf, mas é a sua atuação, e não a maquiagem, que realmente impressiona. A performance foi  bastante elogiada pela crítica, chamando-a de "uma transformação assombrosa" e destacando como a atriz permeia a fragilidade e a força da escritora.

Ao contrário de muitos filmes biográficos, As Horas não tenta retratar Virginia Woolf como uma figura trágica e distante, mas sim como uma pessoa complexa e multifacetada, lidando com sua doença mental enquanto tenta encontrar beleza e significado no mundo ao seu redor. O trabalho foi elogiado pela forma como a atriz trouxe à tona a interioridade de Woolf, mostrando suas lutas internas sem recorrer ao melodrama excessivo. Para Scott, "Kidman oferece uma interpretação discreta e incrivelmente comovente que revela os pensamentos mais íntimos de Woolf".

Depressão e do Suicídio

As Horas lida com temas sombrios, como depressão e suicídio, de forma honesta e sem sentimentalismo. As três protagonistas, Virginia, Laura e Clarissa, enfrentam diferentes tipos de angústia e isolamento. Virginia luta contra suas tendências suicidas e sua sensação de desconexão do mundo ao seu redor, enquanto Laura sente-se presa em um casamento que a sufoca, contemplando a possibilidade de abandonar sua família. Clarissa, por sua vez, enfrenta a perda iminente de Richard, que também lida com a ideia de tirar sua própria vida devido à dor causada pela AIDS.

Para muitos críticos americanos, a forma como o filme aborda essas questões delicadas é uma de suas maiores realizações. Outro elemento marcante é a trilha sonora composta por Philip Glass, que foi elogiada por seu papel na criação da atmosfera do filme. A música repetitiva e hipnótica de Glass complementa perfeitamente o tom melancólico da história, proporcionando uma sensação de urgência e tensão crescente.

Estilo

A direção de Stephen Daldry foi outro ponto de destaque nas críticas americanas. Daldry, que havia ganhado notoriedade com Billy Elliot (2000), demonstrou uma sensibilidade única ao abordar o material denso e emocional de As Horas. Através de sua direção, o filme consegue equilibrar a introspecção das personagens com momentos de grande intensidade dramática.

Cada época é filmada com uma paleta de cores distinta, refletindo os estados emocionais das personagens. As cenas que envolvem Virginia Woolf, por exemplo, são frequentemente filmadas em tons mais frios e cinzentos, enquanto as cenas de Clarissa são banhadas por uma luz mais quente e natural, simbolizando suas tentativas de manter uma fachada de normalidade em meio ao caos emocional.

Prêmio

As Horas é um filme forte que lida com temas profundos e emocionais de maneira honesta e sensível. Através de suas três protagonistas, o filme explora a luta humana pela felicidade, o fardo da expectativa social e o isolamento que pode surgir mesmo nas circunstâncias mais aparentemente privilegiadas. Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep entregam performances excepcionais que capturam as nuances e a complexidade de suas personagens, enquanto a direção de Stephen Daldry e a trilha sonora de Philip Glass criam uma experiência cinematográfica memorável.

Críticos americanos, em sua maioria, aplaudiram o filme por sua profundidade emocional e pela maneira respeitosa com que lida com temas difíceis. Embora possa ser um filme desafiador para alguns, As Horas oferece uma reflexão rica sobre a vida, a morte e o poder da literatura para conectar experiências humanas aparentemente díspares.

A interpretação de Nicole Kidman como Virginia Woolf foi amplamente elogiada pela crítica, e sua transformação física, com a adição de uma prótese no nariz para se assemelhar à escritora, foi um dos elementos mais comentados. O desempenho garantiu-lhe o Oscar de Melhor Atriz, consolidando sua posição como uma das atrizes mais talentosas de sua geração. Esta resenha baseia-se em análises de críticos americanos, que destacam os aspectos narrativos, visuais e emocionais que fazem de As Horas um filme marcante.

 

Serviço

O filme As horas pode ser assistido nas plataformas Apple+ e Prime Video

Edição: Paulo Veras

 

Núcleo de Comunicação Interna da Alece

Email: comunicacaointerna@al.ce.gov.br

Telefone: 85.3257.3032

Página: https://portaldoservidor.al.ce.gov.br/

Veja também