Criatividade para unir gerações: quando a maternidade produz formas alternativas de convivência

O isolamento social tem sido encarado como uma demonstração de cuidado com quem se ama e não existe amor maior do que o de mãe – genuíno, acolhedor, puro e inexplicável. Além de despertar a reflexão sobre o valor das verdadeiras coisas que dão sentido à vida – os laços familiares –, a pandemia da Covid-19 impõe novas forma de celebrar o Dia Das Mães. Em nome da proteção, pois muitas fazem parte do grupo de risco, a data será celebrada à distância na maioria dos lares brasileiros.

O encontro presencial, que reunia a família sob abraços calorosos ao redor da mesa no almoço de domingo, será substituído pelo contato virtual. O melhor presente nesse momento não é material, mas afetivo – um simples gesto de carinho, de se fazer presente, é o suficiente.

Mães e filhos reinventam as formas para estar juntos, ainda que separados fisicamente. Esse é caso de Jacqueline Martins, assessora do Movimento das Mulheres do Legislativo Cearense (MMLC), que costumava comemorar a data com a família reunida em um tradicional almoço na casa de seus pais. A filha de Maria Sales vai celebrar a data em casa de maneira virtual, mas a distância física não será motivo para a ausência. “Vamos comemorar virtualmente, pois não podemos deixar passar em branco essa data tão importante’’, afirma.

De mãe para mãe

Jacqueline Martins sempre contou com o suporte materno. Aos 26 anos, quando morava com sua mãe, veio a primeira gestação, cercada de complicações. “Com 20 semanas de gestação iniciei um quadro de aumento de pressão que foi só aumentando e quando iniciei a medicação, não surtia efeito.  Entrei em uma pré-eclâmpsia, tive que ir às pressas para o centro cirúrgico e Sofia nasceu de 36 semanas (prematura) mas tivemos alta em três dias’’, recorda.

Com menos de um mês de vida, Sofia teve pneumonia. Mãe e filha ficaram internadas por 15 dias recebendo todo o apoio emocional do companheiro, André Martins, e de sua genitora. “Aos poucos a rotina foi se normalizando e hoje ela é uma pré-adolescente saudável e sem nenhuma sequela. Morávamos na casa da minha mãe, que foi meu grande suporte, porque meu esposo trabalhava o dia todo’’, recorda.

A segunda gravidez veio aos 35 anos. Jacqueline teve novamente que redobrar os cuidados até o nascimento de Sara. Contou com o acompanhamento de obstetra, nutricionista, clínico geral, endocrinologista e seguiu à risca as recomendações que incluíam a ingestão de nove remédios diários durante toda a gravidez. O esforço valeu a pena. “Com 40 semanas, chegou a Sara, super saudável e perfeita. Tivemos alta em três dias e até hoje nunca tive preocupações em relação à sua saúde. Nessa época, já morava em minha casa e mesmo assim, recebi a ajuda da minha mãe durante o resguardo. Conto com o apoio dela até hoje’’, destaca.

Nova rotina

A mãe da Sofia (11 anos) e de Sara (três anos) agora lida com um novo desafio: a mudança na rotina. Em meio à pandemia da Covid-19, Jacqueline se divide entre o trabalho e os cuidados com a família. “É um momento em que a família exige maior atenção, principalmente as crianças, que ficam bastante ansiosas e ociosas, mas, por outro lado, nos traz a oportunidade de estar mais juntas’’, avalia.

Jacqueline tem acompanhado de perto as aulas online de Sofia e ensinado Sara nas tarefas escolares. Nos momentos de lazer, os hábitos de ir à praia, fazer piquenique e passear no shopping foram substituídos por outras formas de diversão. A religiosidade, no entanto, ainda é incentivada na casa da família Martins. “Estamos assistindo a Santa Missa diariamente pela TV e, antes de dormir, leio livros e historinhas da Bíblia para elas. Também estou buscando fazer atividades que ambas gostem para que se unam mais. Jogos de adivinhar, dominó e alguns aplicativos estão ajudando muito’’, afirma.

Ao encontrar formas alternativas de preencher a vida das filhas, Jacqueline mostra que o amor de mãe supera dificuldades, vencendo barreiras. Um acalanto em meio à tempestade que vivemos.

JB

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