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Dia dos Pais: aprendizados e fases da paternidade

Por Ana Vitória Marques
08/08/2025 10:08 | Atualizado há 2 horas

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Fernando e Maria Fernanda na Alece Fernando e Maria Fernanda na Alece - Foto: Dário Gabriel

Neste domingo (10/08), celebramos o Dia dos Pais e compartilhar as diferentes formas de viver a paternidade é avançar um pouco mais no entendimento desse papel fundamental na vida de cada pessoa da família. 

Em continuidade à série especial sobre o Dia dos Pais (10/08), o Núcleo de Comunicação Interna  aborda mais duas formas de paternar de servidores da Alece: a paternidade atípica e a fase em que os filhos já não vivem perto dos pais.

Dividida em duas partes, a produção busca explorar a pluralidade de experiências entre pais, contando histórias de servidores da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece). Confira aqui a primeira matéria

A paternidade atípica

Fernando Torcapio é servidor do Centro de Mediação e Gestão de Conflitos (Cemgec) e pai da Maria Fernanda, de 12 anos. Maria tem transtorno do espectro autista (TEA). O diagnóstico, recebido no ano passado, transformou a vivência da paternidade por Fernando e trouxe desafios e aprendizados.

"Eu agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de ser pai. Quando eu descobri que a Maria Fernanda é autista, o meu amor por ela cresceu mais ainda. Eu tenho mais orgulho da minha filha. Como pai e mãe, a gente se preocupa com o futuro dos nossos filhos e tenta fazer o máximo para dar o melhor e estar bem, tanto que também temos acompanhamento psicológico, para ajudar no tratamento da Maria Fernanda”. 

Entre os desafios citados por Fernando, está a investigação da condição de Maria e o posterior diagnóstico dado pelos especialistas. De início, a mãe percebeu dificuldades dela no acompanhamento de algumas disciplinas na escola, além de diferenças de outras crianças, como sensibilidade auditiva e gostar de ficar sozinha. 

“No começo é difícil, porque a gente não acredita. A gente acha que é besteira, a gente acha que é algum problema emocional que a criança está passando. Eu pensava: ‘Ah, isso aí vai passar, é um problema de adolescente, por ela estar virando adolescente’. Mas depois eu aceitei no amor”.

Foto: Dário Gabriel

Segundo o Censo Demográfico 2022, foram identificadas 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA), o que corresponde a 1,2% da população brasileira.

O diagnóstico é feito por equipes multidisciplinares, que envolvem, por exemplo, neuropediatras, psicólogos e psiquiatras. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno do espectro autista pode ser identificado por dificuldades persistentes na comunicação e interação social, além de padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses e atividades. 

Apesar do estranhamento inicial, Fernando explica que Maria lidou bem com o diagnóstico recebido já quase na adolescência, tanto que o ensina sobre a condição nas situações do dia a dia.

“A Maria aceitou numa boa e ela nos ensinou, na verdade. Tem um episódio dela que eu nunca me esqueço. Em um dia que eu estava com ela e com a minha esposa atual e ela disse assim: ‘papai, vamos lá na secretaria do shopping’. Eu perguntei: ‘Por que?’. E ela disse: ‘Não, porque eu queria um abafador’. Eu achei estranho e indaguei o porquê de ela querer um abafador. Ela me respondeu: ‘Porque eu tenho sensibilidade nos ouvidos’. E essa é uma das características do autismo”. 

Fernando ressalta orgulhosamente que muitas pessoas os consideram parecidos no jeito e nos gostos e são nessas semelhanças que eles se encontram, no apreço pela quietude e pelo silêncio, no gostar de estar no seu próprio mundo, nos estilos musicais, entre outros. 

“E eu faço de tudo para ser, além de pai da Maria Fernanda, um amigo dela, de construir essa relação de confiança, principalmente devido a condição do autismo. Até ela diz assim: ‘papai, faça de tudo para não quebrar o ciclo da confiança’".

Os filhos adultos e a distância

“Criamos filhos para voarem e alcançarem o mundo”. Você já deve ter escutado alguma versão dessa frase, mas que apesar do clichê, apresentar uma realidade e um processo que não é fácil para os pais e pode demorar um tempo para ser digerido, mesmo quando ir embora seja sinônimo de independência e sucesso educacional e/ou profissional.

Gilson Lima e Cláudio Teran, ambos servidores da Alece FM, convivem com essa experiência: a distância física dos filhos, que foram morar em outros estados. Lidar com a paternidade à distância é um processo bem particular, cada um descobre com o tempo a forma de lidar com a saudade dos filhos e da proximidade constante. 

Gilson, por exemplo, tem dois filhos que moram em Barueri (SP) há três anos, Guilherme, de 27 anos, e Lívia, de 23 anos. Ele conta sobre a experiência que viveu, quando os dois se mudaram para morar e trabalhar em outro lugar. 

“Foi difícil no começo, principalmente depois do falecimento da minha esposa (mãe deles), porque mesmo sabendo que você cria os filhos para o mundo, você não gostaria nunca que saíssem de perto das suas asas. O convívio e o costume diário de vê-los todos os dias e, de repente, a separação, é complicado nos primeiros meses”.

Acervo pessoal

Para manter o contato contínuo, Gilson recorre às plataformas digitais. “Falo com eles quase que diariamente, conversamos muito pelo WhatsApp e, sempre que possível, porque o tempo é corrido para todos, fazemos chamadas de vídeo, para não perder essa conexão e união que sempre tivemos. Sempre que possível também, eles vêm uma vez ao ano para cá”. 

Cláudio Teran também teve que enfrentar a mudança do filho mais novo para São Paulo. Ele é pai da Maria Helena, de 39 anos, e do Cláudio, de 34 anos, apelidado carinhosamente de Claudinho, e já convive com a paternidade à distância há mais de 10 anos. Para Teran, o coração fica dividido, enquanto vive com o aconchego da filha que mora com ele, sofre com a distância do filho que está a milhares de quilômetros.  

Ele ressalta que essa experiência o levou a refletir sobre a sua própria trajetória e relacionamento com os pais.  

“O processo de separação é muito complexo. A gente nunca se prepara muito bem para aquela coisa dos filhos baterem asas e voarem, embora o objetivo no final seja sempre esse. Então, eu fiz um comparativo muito grande com o que aconteceu comigo, porque eu quando vim embora para o Ceará (do Rio Grande do Sul), eu simplesmente decidi vir, há muitos anos. E eu só fui imaginar o que os meus pais sentiram na época depois que aconteceu comigo a mesma coisa, quando o Claudinho finalmente disse para mim que ia embora para São Paulo”. 

Embora em tempos de videochamada as distâncias terem “diminuído”, como propaga o senso comum, Teran comenta que o que mais sente falta é da presença física do filho. 

“Foi bastante dolorido para mim, principalmente, nos dois primeiros anos que ele foi, que eu tive um certo sofrimento interno grande. Eu sentia muito, muito a ausência dele. Porque hoje em dia nós estamos num tempo em que a tecnologia nos permite estar juntos o tempo todo, mas nunca a presença física vai ser substituída. Então aquela coisa de você acordar de manhã e o filho não está ali, de tomar café da manhã e ele não está… Nós sempre fomos loucos por cinema e eu tive que entender ‘bom, esse fim de semana, se eu for no cinema, eu vou só, porque ele não está aqui para ir comigo”. 

Acervo pessoal

Para Teran, apesar de dolorido, esse também foi um processo de grande aprendizado, o que o levou a perceber que eles estão “longe dos olhos, mas sempre perto do coração”. Seja com Maria Helena ou com Cláudio, Teran comenta que gosta de deixar os filhos livres e que os criou para tomarem as próprias decisões, de forma autônoma e independente. A presença passa a ser uma consequência do amor e não uma obrigação. 

“Nós passamos a perceber que a gente pode continuar convivendo, mesmo não morando mais no mesmo espaço físico. Nós somos muito próximos e eu sou aquela pessoa que eu vivo e deixo viver, eu faço tudo para não sufocar os meus filhos. Então, antes de vir para o trabalho, por exemplo, enquanto tomava café, tive uma ótima conversa por videochamada com ele, enquanto ele se ajeitava para sair”. 

E como lidar com essa saudade? Teran conta o que funciona para ele:

“Olha, a única saudade que não tem solução é a da ausência eterna. Por exemplo, quando eu saí do Rio Grande do Sul, há 40 anos, para vir morar no Ceará, era uma coisa tão definitiva que a única maneira de eu ter um contato com o meu povo lá do outro lado do Brasil era via carta e telefonemas e as ligações eram tão caras… Eu saí em 1985 e eu voltei a rever meus pais em 2009, olha a quantidade de anos que nós perdemos de conviver, de estar juntos, de estar próximos. Então o meu pai e minha mãe sentiram muito mais o peso da minha ausência, provavelmente, do que eu em relação ao meu filho, que vive em São Paulo, porque os tempos são outros”.

Nesta produção do Núcleo de Comunicação Interna da Alece, buscamos apresentar servidores da Alece e suas experiências na paternidade como forma de homenagear todos os que fazem parte da Casa do Povo e exercem a paternidade no cotidiano. 

 

Edição: Samaisa dos Anjos

Núcleo de Comunicação Interna da Alece
E-mail: comunicacaointerna@al.ce.gov.br 
Página: https://portaldoservidor.al.ce.gov.br/ 

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