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Dia dos Pais: as diversas experiências de paternidade dos servidores da Alece

Por Ana Vitória Marques
08/08/2025 08:49 | Atualizado há 1 hora

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Thadeu Nobre, servidor do Malce, e os filhos Thiago e Arthur na Alece Thadeu Nobre, servidor do Malce, e os filhos Thiago e Arthur na Alece - Foto: Dário Gabriel

A paternidade é um papel que tem passado por muitas transformações a partir das mudanças da sociedade. Ser pai e entender-se como tal, independentemente de como esse novo papel aconteceu, é um processo fundamental que tem grande impacto na vida dos filhos, do próprio pai e da família. 

Neste domingo (10/08), celebramos o Dia dos Pais e o Núcleo de Comunicação Interna conta a história de alguns servidores da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) que exercem a paternidade e revelam a pluralidade dessa experiência.

Esta série é dividida em duas partes, nesta primeira vamos conhecer Thadeu Nobre, servidor do Memorial Deputado Pontes Neto (Malce).

A paternidade por adoção

A paternidade acontece de diferentes modos e, em alguns casos, é desejada, planejada e intencional em cada decisão. Alguns são pais de sangue, outros atípicos e outros por adoção. Este último caso é o de Thadeu Nobre, servidor do Malce, pai de dois rapazes gêmeos de 17 anos: Thiago e Arthur. 

“Para mim, ser pai foi uma grande realização na minha vida. Tanto a possibilidade de ser pai, como também de construir um lar, de ter um esposo do meu lado. Só a partir desse momento, que eu tive coragem de enfrentar a paternidade. É muito gratificante, enriquece demais a vida a gente sentir um outro ser crescer ao nosso lado e educá-lo”.

Acervo pessoal

“Nós, eu e o Francisco Rocha (Tito), recebemos essas crianças com oito dias de nascidas. Nós recebemos no hospital os dois bebês, na hora que eu os segurei no braço, tão pequenos, prematuros, um pesava 1,9 kg e o outro 2,6 kg, gêmeos univitelinos. Eu senti uma emoção muito grande e o peso da responsabilidade, como se algo dissesse na minha cabeça: ‘agora a responsabilidade é com vocês’”. 

Desafios vividos juntos

Ser pai trouxe grandes desafios para Thadeu: a adaptação ao exercício da paternidade, o processo de adoção e de reconhecimento oficial da paternidade dele e da do esposo, a criação dos meninos e o preconceito que, em muitos momentos, se fez presente na vida da família. 

Ele relembra, por exemplo, que as crianças tiveram muitos problemas de saúde nos primeiros anos, o que exigiu muita luta e dedicação. Quando os meninos completaram três anos, a família ouviu da pediatra que, sem os cuidados que eles tiveram acesso, poderiam nem ter chegado a um ano de vida. 

O fato de ter um relacionamento homoafetivo impactou diretamente nos processos jurídicos da adoção, indica Thadeu. Logo quando adotou as crianças, há 17 anos, as pessoas diziam que ele não conseguiria a guarda se dissesse que compartilhava a criação com o seu companheiro. Assim, os meninos foram registrados inicialmente apenas no seu nome. 

Foto: Dário Gabriel 

“Naquela época que nós adotamos, 17 anos atrás, não se tinha nada de direito de paternidade. Então, o mesmo dia que a gente recebeu as crianças, é como se a nossa vida continuasse do mesmo jeito. O fato de acordar de madrugada, ficar noites acordadas, nós não tínhamos direito a nenhuma licença e tínhamos que trabalhar dois expedientes no dia seguinte", relembra. 

Após quatro anos, Thadeu sentiu que era injusto o esposo também não ter a guarda das crianças, mesmo compartilhando todos os cuidados e perrengues da paternidade, e sempre precisar de uma autorização judicial quando viajava sozinho com os meninos, por exemplo. 

Foi então que recorreram ao casamento oficial, que, na época, estava começando a ser registrado em cartórios no Ceará. Em um mês, conseguiram oficializar a união e, consequentemente, garantir a guarda dos filhos também ao esposo. Mais uma vitória para a família. 

Preconceito e união da família

Thadeu compartilha que, desde cedo, proporcionaram aos meninos acompanhamento psicológico, porque sabiam que o preconceito é grande e poderia causar sofrimento. “E, realmente, passamos por episódios difíceis”, indica. Um deles, foi quando anunciaram o casamento. 

Na época, os meninos tinham quatro anos e compartilharam com coleguinhas que estavam felizes que os pais deles iam se casar. “Os coleguinhas chegaram na casa dos pais e disseram que tinham dois homens que eram pais e iam casar e os pais apavoraram seus filhos, dizendo que não podia homem com homem casar, porque ia virar monstro, virar lobisomem, jacaré, etc”.

"No dia seguinte, as crianças disseram para os meus filhos e as crianças chegaram aqui em casa apavoradas, dizendo: não case, não case, que vocês vão virar monstros, papai”. Um episódio que exemplifica o preconceito do lado de fora da casa da família e a necessidade de união, amor e apoio para atravessar os momentos. 

Experiências vividas juntos

A máxima popular que diz que as fases dos filhos passam, as idades aumentam e os desafios continuam, apenas mudam, é verdadeira para Thadeu e o esposo. Hoje, com os filhos adolescentes, as preocupações são em relação à dedicação aos estudos e ao desejo de independência que surge com a idade. E entre as atividades que mais gostam de fazer enquanto estão juntos, Thadeu afirma que adoram passear e fazer viagens. 

Acervo pessoal

“Eu tenho procurado levá-los em várias viagens para eles conhecerem o Brasil, tendo uma ideia do país que eles vivem, da importância de viajar para o crescimento intelectual deles. E, recentemente, fizemos a nossa viagem mais longa que foi até Buenos Aires, na Argentina, para que eles conhecessem”.

Saiba mais

Embora, no Brasil, a adoção por pessoas homossexuais nunca tenha sido proibida e o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê que qualquer pessoa possa adotar, mesmo que seja uma família monoparental, ao iniciar o processo de adoção, apenas um dos componentes da união se candidatava. 

Na prática, as crianças adotadas possuíam vínculo legal apenas com um dos parceiros, o que gerava insegurança jurídica e as deixava desprotegidas, sem direitos relacionados ao outro pai ou mãe. Diante disso, em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e mulheres, reconhecendo, assim, a união homoafetiva como um núcleo familiar. Isso permitiu que casais homoafetivos pudessem se habilitar para a adoção.

Essa prática se tornou regra em 2015, mas já era comum na Justiça estadual desde o início dos anos 2000, como foi o caso de Thadeu Nobre e do esposo Francisco Rocha. Essa iniciativa se refletiu no número de registros de crianças por casais homoafetivos. De acordo com dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-BR), de 2021 a 2023, 50.838 crianças foram registradas nesses casos no Brasil.

 

Edição: Samaisa dos Anjos

Núcleo de Comunicação Interna da Alece
E-mail: comunicacaointerna@al.ce.gov.br  
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