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"Tipos de Gentileza" chega aos cinemas investigando o surreal das relações sociais

Por Júlio Sonsol
22/08/2024 16:05 | Atualizado há 3 semanas

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Filme ganhou prêmio de melhor ator (Jesse Plemmons) no Festival de Cannes deste ano Filme ganhou prêmio de melhor ator (Jesse Plemmons) no Festival de Cannes deste ano - Foto: Divulgação

O  filme "Tipos de Gentileza" (Kinds of kindness), que chega aos cinemas de Fortaleza nesta quinta-feira (22/08), traz um trio de histórias que quebra os parâmetros da realidade e, como em um sonho, procura nos fazer pensar sobre o que é a vida e a morte, e quais os comportamentos adotados estão dentro dos critérios socialmente aceitos. Por 2h45min, o filme se divide em três históricas aparentemente isoladas, mas que se interconectam porque exploram os temas de dominação, identidade e os extremos a que as pessoas estão dispostas a ir em busca de aceitação e amor.

Embora seja digna de elogios por sua audácia e originalidade, a produção também flui gerando opiniões contraditórias, especialmente devido à sua estrutura fragmentada e ao conteúdo perturbador.

"Tipos de Gentileza" é dividido em três capítulos distintos: A morte de R.M.F., R.M.F. está voando e R.M.F. come um sanduíche. Cada segmento é uma história independente, mas todos compartilham personagens recorrentes e temas subjacentes que giram em torno do controle — seja ele exercido por figuras de autoridade, por circunstâncias ou por forças internas. Vale destacar que o personagem de quem só conhecemos a abreviatura é praticamente um figurante no desenvolvimento das histórias.

Narrativa episódica

Na primeira parte, A morte R.M.F., somos apresentados a Robert (Jesse Plemmons), um funcionário corporativo submisso a seu chefe manipulador, Raymond (Willem Dafoe). Raymond dita todos os aspectos da vida de Robert, desde suas escolhas alimentares até o momento de ter intimidades com a esposa. Quando Robert falha em cumprir uma tarefa particularmente extrema, que é a de colidir propositalmente com outro carro, é rapidamente descartado, levando-o ao desespero. A primeira se torna a mais forte das três tramas, devido à performance de Plemmons e à maneira como estabelece o tom bizarro e inquietante que permeia o filme​​.

O segundo capítulo, R.M.F. está voando, segue Daniel (também interpretado por Plemmons), um policial cuja esposa Liz (Emma Stone) desapareceu em um acidente no mar. Quando ela retorna misteriosamente, Daniel suspeita que não se trate da mesma pessoa, levando-o a um estado de paranoia e colapso mental. Este segmento, embora menos impactante que o primeiro, ainda oferece momentos de humor sombrio, como as cenas finais que insinuam um mundo governado por cães.

O capítulo final, R.M.F. come um sanduíche, apresenta um culto liderado por Omi (Dafoe) e Aka (Hong Chau), que acredita na possibilidade de ressuscitar os mortos. Emily (Stone) e Andrew (Plemmons) são seguidores desse culto e estão em busca de uma mulher profetizada para trazer os mortos de volta à vida. Este segmento é talvez o mais descolado da realidade pragmática, abordando temas de morte e renascimento com uma brutalidade que, embora característica de Lanthimos, pode ser difícil de assistir​.

Controle, identidade e aceitação

Os temas centrais de "Tipos de Gentileza" - controle, identidade e o desejo de aceitação - são explorados de maneira visceral e muitas vezes perturbadora. O formato do filme busca capturar o lado emocional dos personagens, especialmente através das encenações do ator Plemmons​. No entanto, a divisão do filme em três histórias pode impedir uma empatia mais profunda do público com o filme.

A ideia de controle é talvez o tema mais identificável. Em A morte de R.M.F., o controle absoluto de Raymond sobre Robert é uma metáfora do poder corporativo e da submissão individual do colabordor, onde a busca por aceitação pelo topo da pirâmide leva a sacrifícios extremos. Em R.M.F. está voando, o controle é mais interno, com Daniel lutando contra suas percepções e sanidade. Finalmente, em R.M.F. come um sanduíche, a dominação é exercida de forma coletiva, com o culto impondo suas crenças e práticas aos seguidores.

A crítica social presente no filme é clara, mas Lanthimos não entrega um parecer moral sobre isso, permitindo que o absurdo e o humor sombrio apontem direções por meio das quais cabe ao público decidir que rumo adotar. O tom surreal e a narrativa sem pressa são essenciais para o impacto emocional do filme​.

Atuações

As performances são unanimemente aclamadas, com destaque para Jesse Plemmons, que interpreta três personagens distintos ao longo dos segmentos e recebeu o prêmio de melhor ator, no Festival de Cannes de 2024. Ele apresenta uma atuação que transita entre a desesperança, a paranoia e a devoção cega​.

Emma Stone, recentemente premiada com o Oscar por "Pobres Criaturas" (também dirigido por Lanthimos), embora menos presente no primeiro segmento, se destaca nos dois últimos, mostrando sua versatilidade como atriz em papéis que exigem tanto vulnerabilidade quanto intensidade.

Já Willem Dafoe, figurinha carimbada nos filmes de Lanthimos (dentre os quais, inclusive, "Pobres Criaturas"), traz uma presença magnética e perturbadora, especialmente no terceiro segmento, onde interpreta um líder de culto com um fervor quase religioso. A química entre o elenco principal é palpável e eleva as narrativas, mesmo quando o roteiro se afasta do realismo para o surrealismo.

Serviço: "Tipos de Gentileza" (Kinds of Kindness). Direção: Yorgos Lanthimos. Roteiro: Yorgos Lanthimos e Efthimis Filippou. Duração: 165 minutos. Países: Grécia/Estados Unidos. Elenco: Jesse Plemmons, Emma Stone,  Willem Dafoe, Hong Chau, Margaret Qualley, Mamoudou Athie e Joe Alwyn. Classificação indicativa: 18 anos. Estreia: nesta quinta-feira (22/08), nos Cinemas Benfica, UCI Kinoplex Iguatemi Fortaleza e Cinépolis RioMar. 

Edição: Salomão de Castro

 

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