Superprodução narra trajetória do criador da bomba atômica
Por Salomão de Castro20/07/2023 08:48
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“Existe alguém que está contando com você
Pra lutar em seu lugar já que nessa guerra
Não é ele quem vai morrer
E quando longe de casa
Ferido e com frio
O inimigo você espera
Ele estará com outros velhos
Inventando novos jogos de guerra”
“A Canção do Senhor da Guerra” – Legião Urbana
O físico norteamericano Julius Robert Oppenheimer (1904-1967) teve uma trajetória marcante e controversa. Sob sua liderança, enquanto diretor do Laboratório Nacional de Los Alamos, ao longo da Segunda Guerra Mundial, o Projeto Manhattan criou armas nucleares que resultaram na bomba atômica. Nesta quinta-feira (20/07), cercado de grande expectativa, estreia “Oppenheimer”, superprodução em que o diretor e roteirista Christopher Nolan (o mesmo de “Inception – A Origem”) examina a vida e o legado do teórico.
Baseado no livro autobiográfico “Prometeu Americano: o Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer”, escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin, o roteiro de Nolan aborda a saga do físico e seus colaboradores ao longo do Projeto Manhattan de forma não-linear, ao longo de três horas de duração.
Ao alternar a narrativa entre vida pessoal e pública, o filme humaniza seu protagonista, vivido por Cillian Murphy (colaborador habitual do diretor, em filmes da trilogia Batman e no próprio “Inception – A Origem”) de forma bastante convincente. O foco principal, sem dúvida, está no ambicioso Projeto Manhattan, que consistia no desenvolvimento do projeto nuclear responsável, dentre outras ações, pelo genocídio praticado nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945.
Deve-se reconhecer que não é tarefa fácil abordar a vida de Oppenheimer. Há passagens intensas, como o período em que foi alvo do macartismo (caça aos comunistas) nos Estados Unidos, junto a outros intelectuais e personalidades públicas. Quando recrutado para o Projeto Manhattan, Oppenheimer estava motivado a contribuir para o combate ao fascismo, personificado pelo ditador alemão Adolf Hitler (chanceler da Alemanha Nazista entre 1934 e 1945).
Robert Downey Jr. vive Lewis Strauss, da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos
Ascensão e queda
Como habitualmente acontece nos filmes do diretor, há um aparato técnico impressionante à disposição da trama. Seja pela fotografia de Hoyte van Hoytema (que alterna entre colorido e preto e branco), a onipresente e hipnótica trilha sonora de Ludwig Göransson ou por meio da complexa montagem conduzida por Jennifer Lame, “Oppenheimer” impressiona em cada sequência. Rodado em câmeras Imax, o filme procura, em cada elemento técnico, ser proporcional à grandiosidade do personagem retratado.
O grande mérito da direção e do roteiro de Nolan está em conseguir equilibrar adequadamente a abordagem da elaboração e desenvolvimento do Projeto Manhattan e os fatos que imediatamente se sucederam, levando Oppenheimer a deixar de ser um celebrado nome em sua área de atuação para se tornar uma espécie de “inimigo público número 1” após a tragédia japonesa. Para isso, dois personagens desempenharam papel fundamental: Lewis Strauss (Robert Downey Jr., irreconhecível), que teve dois mandatos à frente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, e o militar Leslie Groves (Matt Damon).
Em momentos distintos, é da interação entre Oppenheimer, Strauss e Groves que muitos dos rumos do Projeto Manhattan são definidos. Desde as idas e vindas que envolvem o recrutamento de profissionais e a gestão do orçamento do projeto às suas consequências, passando pela execução, o filme mostra o peso da política e do militarismo no processo decisório do governo estadunidense em todo o processo. Downey Jr. e Damon têm grandes atuações como os principais interlocutores do protagonista.
Nolan revisita Segunda Guerra Mundial
Mas, se o filme alcança a dimensão almejada pelo diretor, sem dúvida isso se dá pelo desempenho do protagonista: Cillian Murphy tem grande atuação como o personagem-título, sobretudo nos momentos posteriores a 1945, quando passa a questionar suas ações anteriores, diante das consequências para a Humanidade, vindo a tratar do assunto publicamente, com graves consequências.
Para Nolan, trata-se de um feito e tanto. O cineasta já havia abordado a Segunda Guerra Mundial, no também ambicioso “Dunkirk” (2017), que concorreu aos Oscar de melhor filme e diretor e conquistou três estatuetas. Na ocasião, alternava, em três narrativas complementares, como o confronto se dava por terra, mar e ar. À época, parte expressiva da crítica apontou – com razão – que faltava ao longa maior consistência histórica, em benefício da ação e da reconstituição de época. Em “Oppenheimer”, o peso histórico se faz sentir em cada cena. E o olhar do protagonista, em sua sequência final, parece nos dizer: “Não era para ser assim”.
Serviço: Oppenheimer (Estados Unidos, 2023). Direção e roteiro: Christopher Nolan. Elenco: Cillian Murphy, Robert Downey Jr., Matt Damon, Emily Blunt, Florence Pugh, Kenneth Branagh, Rami Malek. Duração: 189 minutos. Estreia nesta quinta-feira (20/07) nos cinemas.
Edição: Paulo Veras
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