Sem concessões, “Meu Pai” traz relato realista sobre a demência
Por ALECE16/04/2021 15:14
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Em tempos de isolamento social, não deixa de ser curioso que um dos principais filmes da atual safra de premiações se debruce sobre o cotidiano de um homem recluso em seu espaçoso apartamento londrino. No entanto, o gancho que vincula a trama de Meu Pai ao confinamento coletivo a que fomos impostos fica por aí: inspirado na peça teatral homônima de autoria do diretor e co-roteirista Florian Zeller, o filme trata da saga de Anthony (Anthony Hopkins), que, aos 81 anos de idade, passa a ser acometido pela demência, o que traz consequências desagradáveis para ele e sua filha Anne (Olivia Colman).
A base teatral não limita a experiência cinematográfica proporcionada por Zeller e seus colaboradores, mas cabe o alerta de que aqueles e aquelas que testemunharam casos de demência em suas famílias devem estar preparados e ter nervos fortes para seguir no longa-metragem de 96 minutos. Este é um filme em que a vivência pessoal (que inclui situações semelhantes vividas por familiares ou amigos) de quem está diante da tela do streaming pesará no acompanhamento da trama.
Feito esse alerta, deve-se registrar também que são muitas as qualidades do filme. A principal delas reside na opção de Zeller por registrar integralmente a narrativa sob o ponto de vista do seu protagonista, por meio do recurso da câmera subjetiva, conforme a gramática da crítica cinematográfica. Esta escolha central situa o filme em um patamar diferenciado, por não fazer concessões ao público, pois a proposta do cineasta é a de que mergulhemos na mente de Anthony e assim compreendamos sua confusão diante da perda progressiva das faculdades mentais.
O roteiro, a cargo de Zeller e de Christopher Hampton (Ligações Perigosas), interage de forma orgânica com a direção, sem cenas desnecessárias ou recursos melodramáticos que, em outras mãos, reduziriam os méritos do filme. Mas, que fique claro: é a atuação de Hopkins que faz de Meu Pai uma experiência cinematográfica acima da média. Como sua principal parceira de cena, Olivia Colman tem um desempenho que oscila entre o sofrimento e a condescendência com que Anne procura conduzir a situação, dividida entre cuidar do pai e tomar a decisão de passar a residir em Paris, na França.
Premiação britânica impulsiona filme rumo ao Oscar
No último domingo (11/04), a Academia Britânica, o Bafta, concedeu a Meu Pai os prêmios de melhor ator (Hopkins) e melhor roteiro adaptado (Zeller e Hampton). A premiação inglesa em duas categorias importantes pode representar um reforço na campanha de Meu Pai na atual edição do Oscar, que concederá seus prêmios no dia 25 de abril. O longa de Zeller tem seis indicações, nas categorias de melhor filme, ator (Hopkins), atriz coadjuvante (Colman), roteiro adaptado, montagem e design de produção. Até agora, uma eventual vitória de Hopkins encontra maior obstáculo na indicação póstuma ao Oscar de melhor ator para Chadwick Boseman, por “A Voz Suprema do Blues”.
Cabe lembrar que três dos indicados já têm estatuetas no currículo: Hopkins como melhor ator por “O Silêncio dos Inocentes” (1991), Colman foi escolhida melhor atriz por “A Favorita” (2018) e Hampton venceu o prêmio de melhor roteiro adaptado, com “Ligações Perigosas” (1988).
O filme está disponível no streaming pelo Apple TV (iTunes), Now, Google Play e YouTube.
SC
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