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Há 40 anos, caso emblemático de tentativa de fraude marcou eleições no Rio de Janeiro

Por ALECE
09/08/2022 14:33

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Debate televisivo entre os candidatos ao governo do Rio de Janeiro, em 1982 Debate televisivo entre os candidatos ao governo do Rio de Janeiro, em 1982 - Foto: Globo.com

Na segunda matéria sobre a evolução do processo eleitoral no Brasil ao longo de 90 anos, o Portal do Servidor trata de um episódio notável em 1982, há 40 anos, na eleição para o governo do Rio de Janeiro. O caso, de grande repercussão nacional, evidenciou as falhas do sistema de voto em cédula de papel, fortalecendo a discussão sobre a necessidade de adoção do voto eletrônico, o que viria a ocorrer a partir das eleições de 1996.

Em 1982, ainda com o voto em cédulas de papel, um esquema foi montado a fim de favorecer o candidato Moreira Franco (PDS), que disputava o cargo com Miro Teixeira (PMDB), e o ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, do então recentemente criado PDT. O embuste acabaria descoberto, como consequência da apuração paralela à do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), realizada pela Rádio Jornal do Brasil.

A manipulação principal aconteceria por meio de uma função infiltrada no sistema de contagem dos votos da empresa Proconsult, contratada para finalizar a apuração. A função ficou conhecida como “diferencial delta”. Nela, percentuais de votos dados ao candidato Leonel Brizola eram retirados, transformando-os em votos nulos ou simplesmente os transferindo para o concorrente pelo PDS.

A farsa começou a cair logo no primeiro dia da apuração, em razão do reconhecimento público do candidato do PMDB, Miro Teixeira, dando a vitória a Leonel Brizola. Este fato, aliado a grande discrepância entre os números oficiais do TRE-RJ e os da Rádio Jornal do Brasil, fez com que a apuração fosse suspensa. A partir daí, a Proconsult foi retirada do processo e técnicos do Serviço Nacional de Informações (SNI) foram ao Rio de Janeiro para eliminar do sistema dos computadores da apuração o “diferencial delta”.

Processo vulnerável

Na época, embora fossem responsáveis pelas eleições, alguns Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) não detinham o controle de todo o processo. Em alguns estados, empresas terceirizadas eram contratadas para a contabilização final dos votos. Desta forma, a possibilidade de atores não pertencentes à Justiça Eleitoral interferirem diretamente nos resultados, como foi tentado no Rio de Janeiro em 1982, era concreta.

A Proconsult, como relata Miro Teixeira era uma empresa que só existia no papel. "Foi criada para se habilitar à apuração das eleições no estado do Rio de Janeiro. Era uma subsidiária da Racimec – empresa esta que no regime militar ganhou o monopólio das máquinas de jogos da Caixa Econômica Federal", revela Miro Teixeira, também ex-deputado federal e ex-ministro das Comunicações.

Miro diz ainda que o próprio Brizola afirmou ter sido procurado por um dos mentores da fraude, um dos analistas de sistemas que fizeram o ‘diferencial delta’. Isto se deu no auge do reconhecimento da vitória, mas a repercussão não estava formalizada e não se falava ainda em Proconsult. “Essa pessoa procurou o Brizola e ofereceu o mapa da fraude em troca da presidência da Companhia do Metrô ou do Banco do Estado do Rio de Janeiro. Em contrapartida dava a garantia de que a fraude não seria consumada. E o Brizola fingiu concordar”, lembra o ex-deputado.

Papel da imprensa na denúncia

O jornalista Oswaldo Maneschy, repórter do jornal O Globo em 1982 e também candidato a vereador pelo município de Niterói (RJ) naquelas eleições, corrobora com as impressões de Miro Teixeira. "A Proconsult era uma empresa de informática organizada e integrada por agentes do SNI  e a intenção era impedir a eleição de Brizola, que havia retornado ao país após a anistia", afirma o jornalista, atual integrante do diretório nacional do PDT.

Maneschy salienta ter sido a decisão da Rádio Jornal do Brasil de apurar somente os votos para governador e senador daquele pleito que desencadeou a discrepância entre os números que eram divulgados pela rádio com os dados oficiais vindos do TRE-RJ. "Eu era repórter do jornal 'O Globo' e foi o prórpiro Roberto Marinho, dono do jornal, que mandou parar a divulgação do dados vindos do TRE. Brizola acabou convocando uma entrevista coletiva com jornalistas brasileiros e estrageiros, quando anunciou a tentativa de fraude", relembra o dirigente partidário, entrevistado pelo Portal do Servidor.

No fim, a tentativa de burlar a escolha dos eleitores fracassou. O resultado final deu vitória a Brizola 1.709.264 votos (34,17%). Na sequência, Moreira Franco obteve 1.530.728 votos (30,6%), enquanto Miro Teixeira alcançou 1.073.471 votos (21,46%).

No vídeo abaixo da matéria, o jornalista Osvaldo Maneschy apresenta um depoimento sobre a eleição para o governo do Rio de Janeiro realizada há 40 anos, quando aborda a tentativa de fraude no processo.

SC/PV, com informações do observatoriodaimprensa.com.br

 

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