Da logística familiar à profissional, uma jornada de amor e superação
Por Narla Lopes e Salomão de Castro26/05/2023 11:10 | Atualizado há 1 ano
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Na série de matérias em homenagem ao mês das mães, o Portal do Servidor apresenta nesta sexta-feira (25/05) uma história de fé, amor e superação entre Maria Arlêta e seu filho, Cláudio Martins, orientador da Sala de Logística da Assembleia Legislativa do Ceará. A trajetória dos dois é exemplo inspirador da força e determinação que uma mãe pode demonstrar ao cuidar de seu filho, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
"Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente, acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí!"
" Meu Guri" (Chico Buarque)
Caçula de uma família de quatro irmãos, Cláudio Martins guarda com carinho as lembranças da sua infância e dos preciosos momentos compartilhados com sua mãe, que atualmente está com 90 anos de idade. Desde as refeições em família até a rotina diária de levá-lo e buscá-lo na escola, sem esquecer das peripécias típicas de uma criança, que certamente faziam sua mãe ficar de cabelo em pé. No entanto, todos esses momentos são verdadeiros tesouros para ele.
Entre as histórias engraçadas que marcam a relação única entre mãe e filho, há uma em especial que ainda hoje provoca boas risadas entre os dois. Após ter aprontado uma danação daquelas, sua mãe disse que naquele dia ele não escapava, ia “apanhar de palmatória” (instrumento, geralmente de madeira, usado para castigar alguém com golpes na palma da mão). Com medo, Cláudio teve uma ideia inusitada: decidiu se esconder em cima da casa. "Subi duas horas da tarde (14 horas) e só desci às nove da noite (21 horas)!", conta o servidor aos risos.
A situação ficou tão séria que a mãe acabou chamando a Polícia, mas nem o efetivo policial foi o suficiente para encontrá-lo. Cláudio relata que, ao decidir descer, encontrou sua mãe desesperada. Felizmente, a raiva dela deu lugar ao alívio de vê-lo são e salvo.
Força inabalável
No entanto, a família também enfrentou momentos difíceis. Seu pai, José de Paiva Martins, trabalhava com pescaria e viajava bastante, alternando atividades entre Ceará, Maranhão e o Pará. Infelizmente, ele sofreu um sério acidente de carro enquanto transportava uma carga de peixes no Pará. "O carro sobrou numa curva e virou”, recorda. O incidente o deixou gravemente ferido, impossibilitando-o de se levantar por quatro anos.
Além disso, suas irmãs foram morar em Brasília com uma tia, por um ano, e seu irmão ficou sob os cuidados dos avós paternos. “Meus avós moravam em frente a nossa casa, viram o sufoco da mamãe em cuidar sozinha dos filhos, pediram para ele ficar dormindo todos os dias e acabou ficando e se acostumou”, destaca.
O acidente com o pai trouxe inúmeras dificuldades financeiras para a família. Porém, Maria Arlêta nunca deixou a fé e a esperança se abalarem, mantendo sempre seu tercinho seguro em suas mãos. Nesse período, os avós maternos de Cláudio ajudavam com o que podiam. Ele, por sua vez, vendia bombons e raias (pipas) no colégio para complementar a renda. “Passamos por muitos momentos delicados, mas o que mais me impressiona é que ela nunca perdeu seu jeito alegre, extrovertido e aquele dom de levantar o astral de todos ao seu redor", lembra Cláudio com admiração.
Maria Arlêta (primeira à direita) com os filhos Cláudio, Ana Maria, José Hugo e Regina Célia - Foto: Acervo pessoal
Maria Arlêta, acrescenta o servidor, sempre demonstrava sua capacidade de enfrentar os desafios com otimismo. Em momentos difíceis, quando não tinha muita comida em casa, ela encontrava uma maneira criativa de lidar com a situação. "Meu filho, que tal brincarmos hoje de tomar caldo de caridade?", lembra, em referência à refeição que é feita com farinha, pimenta do reino e alho. Essa atitude o marcou profundamente, assim como a imagem dela como uma figura resiliente e perseverante. "Quando meus avós decidiram se mudar, ficamos apenas nós dois, e as dificuldades aumentaram mais ainda. No entanto, ela continuou cuidando de mim com todo carinho", ressalta Cláudio.
Ele destaca uma ocasião em que acordaram e, constrangida, sua mãe olhou para ele e revelou que só tinham pão para comer. Ele respondeu com tranquilidade: "Não tem problema, mamãe." No entanto, naquele dia, ele fez a si mesmo uma promessa: “No dia que eu arranjar um emprego, nunca mais a gente vai passar necessidade”. O filho de dona Maria Arlêta não demorou a cumprir a promessa. Em 1985, conquistou seu primeiro emprego na Alece, onde permanece até hoje.
Determinação como característica
Um dos momentos mais angustiantes das vidas da família ainda estava por vir. "Quando minha mãe foi diagnosticada com câncer há sete anos, a mesma doença que havia levado meu pai", revela Cláudio. Ele relata que diante da demora do plano de saúde em agendar a consulta com o cirurgião, decidiu buscar atendimento particular com o mesmo médico que havia operado seu pai. No entanto, deparou-se com a dificuldade de não ter dinheiro suficiente para pagar pelo procedimento. Desesperado, ofereceu o carro de sua filha como forma de pagamento, mas o médico recusou, alegando a necessidade de dividir os custos com outros profissionais.
Ao retornar para casa, sua mãe fez um pedido desesperado: que não a deixasse morrer com aquela doença. As palavras despertaram uma força interior em Cláudio, que se sentiu determinado a lutar ainda mais pela saúde dela. Ele persistiu incansavelmente em sua busca, até que sua secretária lhe informou sobre um médico chamado Hugo Luz. "Ele realmente foi uma luz em nossas vidas", afirma Cláudio. Movido pela fé e confiando na providência divina, Cláudio entrou em contato com o médico e explicou a situação. Para sua surpresa e alegria, a cirurgia da mãe foi agendada em apenas uma semana.
Para custear o procedimento, pediu uma contribuição financeira aos irmãos, antecipou o 13º salário, fez empréstimos e conseguiu juntar o valor necessário às despesas médicas. Após a cirurgia, quando a mãe estava se recuperando, o médico abordou Cláudio e disse que havia feito tudo o que estava ao seu alcance para salvar a vida dela. Emocionado e grato, Cláudio tentou lhe entregar o dinheiro, mas o dr. Hugo recusou. “Ele disse pra mim: não quero dinheiro, Cláudio. Estou aqui para salvar vidas”, disse emocionado.
Maria Arlêta durante aniversário de 90 anos - Foto: Acervo pessoal
A matriarca da família foi operada em um hospital particular que também atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Nossa fé conseguiu que o procedimento fosse feito pelo SUS”, comenta Cláudio, para quem a intervenção de Deus contemplou sua mãe.
Com alegria, o servidor relata que dona Arlêta não apenas superou o câncer, mas também enfrentou corajosamente outros desafios de saúde, como um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em abril deste ano. No entanto, graças ao cuidado incansável dele e de todos os filhos, unidos em busca de proporcionar a máxima qualidade de vida, ela encontra constantemente forças para se recuperar.
Segunda mãe
Cláudio também faz questão de homenagear sua tia Maria Orietta, falecida recentemente, a quem ele considera uma segunda mãe. Ele ressalta o apoio, incluindo o suporte financeiro, oferecido por ela. "Na época em que enfrentávamos dificuldades, foram ela e o meu tio, que também era meu padrinho, que custearam meus estudos. Quando consegui uma bolsa e quis devolver o dinheiro, eles não apenas recusaram, como continuaram me apoiando", relata.
O orientador da Sala de Logística da Alece expressa uma mensagem sobre a dimensão do amor das mães. "Gostaria de transmitir a todos os filhos que o amor de uma mãe é infinito. Elas se doam, se sacrificam para nos ver bem. Mãe é sinônimo de amor, um presente divino. Elas estão sempre presentes, em todos os momentos, zelando por nós. Portanto, ame sua mãe, tanto em vida como depois que ela partir. Pois embora o corpo se vá, elas permanecem em nossos corações e mentes. Cultive essa semente para que seus próprios filhos aprendam a valorizar a sua mãe e o pai também", conclui.
Cláudio Martins é casado, pai de duas filhas e tem um casal de netos. Ele exerce a função de Orientador da Sala de Logística, na Alece. Sua profunda religiosidade é evidente em sua devoção a Nossa Senhora e São Bento. Sua área de formação é Pedagogia e tem especialização em Recursos Humanos.
Nota: No dia 22 de julho de 2023, quase dois meses após a publicação deste texto, Maria Arlêta partiu. Ela completaria 91 anos no dia 17 de outubro deste ano. “Apesar do AVC que ela teve no mês de março, ela teve uma recuperação tranquila com a ajuda dos filhos e, principalmente, da minha irmã Ana. Foi uma morte tranquila. Minha mãe tomou banho de manhã e após os cuidados rotineiros, ela olhou para minha irmã, baixou a cabeça, perdeu as forças e descansou”, afirmou Cláudio Martins.
Edição: Salomão de Castro
Núcleo de Comunicação Interna da Alece
Email: comunicacaointerna@al.ce.gov.br
Telefone: 85.3257.3032
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Autor: Núcleo de Comunicação Interna, com assessoria da Ceasa-CE