Seminário na AL destaca contribuições de Celso Furtado para Brasil e Nordeste
Por ALECE12/08/2020 21:19
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As contribuições de Celso Furtado e a importância de suas obras para o desenvolvimento do Brasil e do Nordeste foram tema, nesta quarta-feira (12/08), da abertura do seminário “100 Anos de Celso Furtado – Que desenvolvimento queremos para o Brasil?”. O evento é uma realização da Escola Superior do Parlamento Cearense (Unipace), da Assembleia Legislativa do Ceará e do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), por meio do Observatório de Fortaleza.
O presidente da Escola Superior do Parlamento Cearense (Unipace) e mediador do evento, deputado Salmito (PDT), abriu o evento com uma frase provocadora de Celso Furtado, a qual pontua que “o esvaziamento da atividade política engendra o niilismo ou a revolta, e não a libertação do ser humano. A atividade política é condição necessária para que se manifeste a criatividade do plano institucional e para que se inovem as normas sociais”. A afirmação está presente na obra “Criatividade e independência na civilização industrial”, publicada em 1978.
“Em tempo de incertezas e descrédito na ação política, de cinismo de governantes face aos valores que sustentam a democracia, de ameaças à ciência e à cultura, é preciso, mais do que nunca, retomar os significados profundos da política”, salientou Salmito. O parlamentar ressaltou ainda o vasto legado intelectual deixado por Furtado e seu brilhantismo como executivo público, com passagens memoráveis nos ministérios do Planejamento e da Cultura.
Conforme o superintendente do Iplanfor, Eudoro Santana, Celso Furtado, além de economista, foi um cientista social, pois possuía visão transversal e sistêmica das questões socioeconômicas do País e, sobretudo, do Nordeste. Eudoro também destacou a importância do projeto “Operação Nordeste” - inspirado no livro “Formação Econômica do Brasil”, de Celso Furtado - a partir do qual nasceu a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
“Acho que estamos precisando de um novo Celso Furtado para retomar esse projeto, evidentemente dentro de outra realidade, no sentido de olhar o contexto do território no qual ele está sendo trabalhado e pensá-lo de forma transversal, compartilhada e, portanto, sistêmica, pois esse é o único caminho que temos para desenvolver o País e, em particular, o Nordeste, de forma mais humana e solidária”, avaliou.
A secretária executiva da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Roseane Medeiros, destacou que uma das grandes contribuições de Celso Furtado foi mostrar a brasileiros que o Nordeste também era economicamente viável, trabalhando, com isso, a autoestima dos nordestinos. Ela apontou ainda que, na época de Furtado, o Nordeste era visto como um problema para o país, devido à irregularidade de chuvas e ao êxodo rural.
“Ao pensar, de certa forma, a Sudene e também a criação de uma infraestrutura, ele fez com que acreditássemos que tudo o que vivemos hoje seria possível. Tenho uma crença muito forte de que tudo faz parte de uma construção coletiva, e hoje nós vemos o Ceará se saindo muito bem, principalmente nas políticas de continuidade”, disse, referindo-se às políticas públicas nas áreas de educação, infraestrutura e recursos hídricos.
Para o escritor e presidente do Centro Celso Furtado, Saturnino Braga, a figura de Celso Furtado é inspiradora e bastante representativa em termos de desenvolvimento social e econômico do país. “A sua garra e a sua vontade de transformar o Brasil e desenvolver as regiões subdesenvolvidas, especialmente o seu Nordeste, eram um exemplo histórico e educativo, para nós brasileiros, do que era possível se fazer em prol do nosso desenvolvimento cultural”, frisou.
A jornalista, escritora e tradutora Rosa Freire D'Aguiar, que também é viúva de Celso Furtado, comentou sobre os conteúdos encontrados por ela nos diários do economista, os quais se dividiam em testemunhos de eventos históricos - como seu encontro com Péron, quando este estava exilado na Espanha; momentos de tensão, a exemplo da batalha da Sudene, época na qual circulava entre deputados e senadores uma falsa ficha policial de Furtado, acusando-o de ser comunista; e, por fim, viagens a países pouco visitados e nos quais Celso esteve nas décadas de 1970 e 1980.
“Me dá uma sensação de que a gente está em uma espécie de orfandade de pensadores com o perfil de Celso. Concordo com Eudoro, ele é mais do que economista, ele é um pensador. Incorporou outros campos das ciências sociais e humanas, filosofia, psicanálise e história. Ele tem uma visão global e põe tudo isso junto de forma articulada e, assim, a gente tem uma visão global do mundo”, refletiu.
A programação desta quarta-feira contou ainda com o painel “Sobre a inspiração de Furtado: capitalismo, globalização, desenvolvimento na América Latina e os novos ares no mundo pós-pandemia”. O evento prossegue até quinta-feira (13/08), com o painel “Sob a inspiração de Furtado: significados da ciência e da cultura para o desenvolvimento brasileiro”, às 15h, e a mesa de encerramento “Da fantasia desfeita à esperança de um novo amanhecer: um projeto para o Brasil”, às 17h.
O seminário está sendo transmitido on-line nos canais do YouTube da Unipace e do Observatório de Fortaleza.
(Da Agência de Notícias da AL)
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