Webinar sobre direitos da pessoa idosa mobiliza servidores da Alece
Por ALECE13/07/2021 20:53
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A Célula de Qualificação dos Servidores da Escola Superior do Parlamento Cearense (Unipace), realizou nesta terça-feira (13/07) Webinar abordando “O direito da pessoa idosa face ao impacto da revolução da longevidade”. A apresentação coube ao médico Alexandre Kalache, com pós-graduação em Doenças Infecciosa pela Faculdade Nacional de Medicina, mestrado em Medicina Social pela Universidade de Londres (Inglaterra), em 1975, e doutorado em Epidemiologia pela Universidade de Oxford. O expositor também foi diretor de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial de Saúde (OMS) entre 1994 e 2008.
De acordo com o expositor, viver é um ato político e no Brasil, poder respirar tornou-se um ato político. “O direito mais sagrado é o da vida. Mas viver com dignidade é direito de todos”, defendeu. Conforme o palestrante, garantir aos mais vulneráveis esses direitos sempre foi e continuará sendo a marca principal de uma sociedade civilizada e solidária.
Kalache revelou que participou de um Webinar em 26 de fevereiro na Fundação Osvaldo Cruz. Na época, o país tinha 250 mil mortos. “Em quatro meses matamos mais 250 mil, sobretudo idosos”, pontuou. No mesmo dia da apresentação, ele lembrou que houve a posse de um novo ministro da Saúde. “Houve uma aglomeração devassa quando se chegou a 250 mil mortos, todos sem máscaras, como se estivesse celebrando as mortes”, avaliou.
Ele recordou que pouco depois da posse do novo ministro, o presidente Jair Bolsonaro, líder máximo da Nação, falou "em parar de mimimi". O médico perguntou onde está a empatia e a solidariedade. “Há milhões de pessoas idosas que se perguntam se vale a pena envelhecer. Perdi esposa depois de 45 anos de vida conjugal, e nem no funeral pude estar. Foi a dor previsível de uma tragédia anunciada”. Ele asseverou que em abril de 2020, poucas semanas depois da chegada da Covid-19, publicou um artigo, prevendo que a pandemia seria mais escura, mais pobre, menos científica e muito idadista (termo que ele associa ao preconceito ao idoso), levando o idoso à exclusão social.
Números e procedimentos
Diante do vocabulário exposto pelo presidente, o expositor disse que se sente insultado como idoso. Fazendo um comparativo com os demais países, ele apontou que na Austrália, quando detectam um caso de Covid-19 fazem busca detalhada e bloqueiam quem teve contato. Enquanto no Brasil, 7,5 milhões de testes ficaram encalhados até vencer o prazo de validade, “por causa do expert em logística”. “Será que foi uma ordem?”, perguntou.
Ao invés de adotar princípios científicos, segundo o palestrante, o Ministério da Saúde preferiu adotar tratamento precoce, composto por cloroquina, kit Covid, ivermectina e azitromicina. “Até as emas do Planalto tomaram, inclusive prescritos por colegas que juraram por Hipócrates servir em nome da ciência”, apontou. O médico acentuou que a ignorância gera mais confiança do que o conhecimento, citando Darwin, em livro escrito há mais de 150 anos.
Conforme avisou, só se vence uma pandemia por meio da decência e da ciência. “Mas se viu o desrespeito a ciência tentando mascarar os dados. O Ministério da Saúde adotou o negacionismo, a corrupção e a falta de solidariedade”, apontou. Para ele, o Brasil mostrou a receita do que não fazer, dobrando o número de mortes em quatro meses. “As novas variantes estão acometendo indivíduos cada vez mais jovens”, frisou.
Segmentação dos casos
O expositor explicou que na periferia das grandes cidades do Sul do país, há a miséria acumulada. Enquanto isso, o auxílio emergencial foi realizado tirando recursos da Saúde e da Educação, bem como apresentando desemprego em alta. “Estamos com 27 milhões de desempregados e 6 milhões de desalentados. Os nem-nens, nem trabalham e nem estudam. 56% da população passam por insegurança alimentar, e o acesso às UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) é oito vezes menor nos bairros pobres. Os alimentos produzidos vão alimentar os porcos da China”, disse.
Conforme salientou, os ricos no Brasil vivem até 20 anos mais do que os mais pobres. Segundo ele, nas concentrações habitacionais mais carentes temos lepra e tuberculose. Soma-se a tudo isso o ‘Idadismo’, que é o preconceito com os idosos. “A culpa é sua, porque ficou velho? Não basta não ser idadista, é preciso ser anti-idadista”, salientou. De acordo com os estudos, em 2065, serão 78 milhões de pessoas idosas no País, correspondendo a 33% da população.
“Tenho 50 anos de formado e continuo trabalhando porque sou privilegiado. Se nossa população tivesse o mesmo número de idosos que a Itália, teríamos um milhão de mortos nesta pandemia. Pela forma como se cuida da mãe natureza, a mortalidade será ainda maior na próxima crise pandêmica”, previu.
Kalache revelou ainda que o Conselho Nacional de Pessoas Idosas nada fez durante a pandemia porque está sob intervenção do presidente da República desde 2019, e, portanto, o idoso não tem nenhuma representatividade. Conforme salientou, o Marco Político do Envelhecimento Ativo da Nações Unidas, lançado em 2002, prevê saúde, aprendizagem, participação e segurança para as pessoas idosas. “Todos têm direito a ter um seguro, o direito a parar, descansar e ter uma renda mínima, além de ser respeitado e cuidado”, completou.
JS
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