Webinar debate ''Política e Democracia Pós-Pandemia"
Por ALECE03/08/2021 20:51
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“A minha suspeita é que diferente de sociedades do centro do Capitalismo, o uso de espaços públicos será o fator de maior resistência no País, no momento pós-pandemia (Covid-19), mesmo que prevaleça um estado epidêmico”. A expectativa foi manifestada por Marcos Paulo Campos, doutor em Sociologia, durante Webinar promovida pela Escola Superior do Parlamento Cearense (Unipace), por meio da Célula de Qualificação dos Servidores, nesta terça-feira (03/08).
A temática aborda foi ''Política e Democracia Pós-Pandemia". O expositor é também mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor da Universidade Estadual do Vale do Acaraú (Uva).
De acordo com o professor, o Brasil hoje conserva relações familiares gregárias, enquanto que nos países capitalistas há uma maior ruptura desse modelo. “Em Frankfurt, Alemanha, por exemplo se enfrenta um anonimato forte. Em 50 pessoas que se encontra na rua, 49 não se conhecem”, apontou. E isso, na sua visão, tem impacto direto no enfrentamento da pandemia.
“Podemos identificar, em relação à pandemia, que as gerações mais novas são compostas de famílias menores. Minha bisavó teve 22 filhos. Foram 20 gestações e duas de gêmeos, no início do século passado. O desenvolvimento de vacinas não era o que é hoje. E só nove cresceram. Minha avó teve dois filhos, um dos quais é meu pai”, revelou, ao diagnosticar a evolução social no país.
Segundo ele, estamos acompanhando o movimento mundial de redução das famílias. Na Inglaterra, revelou, os casamentos duram em média dez anos. Ele citou a obra “Amor Líquido”, do sociólogo Zygmunt Bauman, reforçando a ideia de que as relações ficaram mais tênues. A fragilidade, conforme explicou, também está relacionada à mudança de horários de trabalho e migração para outras cidades, causando distanciamento entre parentes e isso dificulta um regime conjugal duradouro.
Cenário político
Com relação ao momento político, Marcos Campos avisou que há também em todo mundo, mesmo em países que tenham chefes de estado eleitos por sistemas partidários e regras institucionais sólidas, reações políticas às instituições, como ocorreu nos Estados Unidos. “Estamos experimentando um governo que pela primeira vez desde 1988 está reagindo aos instrumentos de composição do poder previstos pela Constituição. Tanto os apoiadores quanto os opositores reconhecem essa reação, acompanhando o movimento mundial, liderado pelo ex-presidente Donald Trump (Estados Unidos)”, apontou.
Ao avaliar o espaço comum, o expositor reconheceu que o Brasil é estruturado por um catolicismo ibérico, marcado por festas públicas, quermesses e romarias. Este mesmo tipo de mobilização é replicado por protestantes, o que normalmente não se ocorre, em outros países. “Tradições protestantes fortalecem o comunitarismo. Este comunitarismo fortalece, nos Estados Unidos, o voto distrital, ao contrário do Brasil, que não reproduz essas mesmas condições”, apontou.
Marcos Campos avaliou que o Brasil vive uma transição religiosa para novas vertentes do pentecostalismo, que pode se transformar em uma maioria religiosa, se continuar a crescer, como tem ocorrido nos dias de hoje. Ele disse ainda que as grandes festas públicas são pontos de concentração populacional.
Transformações
“Há, no entanto, as transformações nas famílias, no Estado e na comunidade. A pandemia promoveu o distanciamento social e isolamento. Seria complexo até para sociedades mais isoladas. No caso nacional se torna complicado, porque temos marcas culturais que consideram os vizinhos como partes da família, que são convidados para as festas em casa, como aniversários”, pontuou.
“A esfera do Estado e da política foi atingida por um evento problemático para a saúde, segurança, educação, transporte e comércio. Tudo é redesenhado pela situação pandêmica. É um mesmo problema com resposta diferentes, que permitiu a instalação de um conflito político. A pandemia demanda uma ação institucional. Ninguém se salva sozinho”, considerou.
No campo familiar, ele prevê que teremos afetos resgatados que ficaram pelo caminho. Entre estes, a orfandade infantil e adulta. “Não escaparemos de um tempo significativo de luto. Faremos um balanço de quem não sobreviveu à pandemia, e isso significa dor. Ao mesmo tempo, é possível que se reconheçam os vínculos de quem se ajudou nos momentos de necessidade”, frisou.
Na segunda esfera, ele previu que iremos avaliar a gestão dos líderes públicos. O professor salientou que as pesquisas de opinião apontam eleições em dois turnos, em 2022, para presidente da República. “O Nordeste pode seguir em uma avaliação diferente do Centro-sul do país. Todas as eleições em estados nordestinos foram decididas em primeiro turno, em 2018. O Centro-sul, no entanto, recepcionou novas figuras políticas afeitas ao novo momento político nacional”, comparou.
Na esfera comunitária, ele admite que acontecerá uma reelaboração da brasilidade. Tudo indica que haverá uma retomada das festas de rua, mas não ausente de preocupação. Parece em sua opinião, que a pandemia se manterá resiliente como epidemia, gerando internações hospitalares e preocupações na área de saúde. “Nos condomínios há reivindicações de uso para áreas comuns, inclusive”, destacou.
JS
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