"Transtorno Explosivo" traz reflexão sobre relações parentais e sociais
Por ALECE16/09/2021 17:59 | Atualizado há 1 ano
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O que leva uma mãe abandonar a própria filha por não conseguir conviver com as explosões de temperamento dela? E como a sociedade deve agir para conseguir reduzir os danos desse abandono? Essas parecem ser as questões centrais abordadas, mas sem respostas definitivas, no filme "Transtorno Explosivo", que retrata a vida da criança Benni, protagonizado pela jovem atriz Helena Zangel, que concorreu neste ano ao Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante por "Relatos do Mundo", ao lado de Tom Hanks (Netflix).
A psicanálise diz que a psique de uma pessoa tende a ser formada até os seis anos de idade. Se as funções parentais funcionarem de maneira eficaz, a tendência é de que a criança cresça de maneira saudável. Caso contrário, um abandono emocional pode lhe trazer, em casos extremos, um grande déficit psicológico, como é o caso da pequena Benni. No filme, entretanto, o transtorno mental parece anteceder o abandono. A criança faz de tudo para voltar ao convívio com a mãe, mas a reaproximação é difícil.
No desenvolvimento do enredo a garota apresenta toda sorte de desconformidade com o meio social onde se insere. Ela rouba, berra, quebra, chantageia e machuca a si mesma. Ao mesmo tempo, diversos profissionais da área da educação estudam uma forma de conter esse temperamento explosivo. Benni já foi expulsa de diversas escolas e abandonada por famílias adotivas. A sua mãe não tem condições financeiras nem emocionais para lidar com a menina de nove anos.
Direção e atuações
A diretora alemã Nora Fingscheidt, também roteirista da trama, acaba criando uma história complexa sobre todo um sistema de proteção infantil, desenvolvendo camadas não só relacionadas à protagonista, como a todos os outros personagens ao seu redor. Sua intenção em nenhum momento é trazer soluções ao caso, mas somente apresentá-lo ao público de uma maneira crua e densa.
O trabalho mais interessante dentre os adultos é o de Lisa Hagmeister, no papel da mãe da menina. Com pouco tempo de tela é possível sentir raiva, pena e compreensão. Embora seus atos sejam imperdoáveis, há diversos fatores que ajudam a gerar empatia por ela, uma mulher com dois filhos além de Benni, sem emprego e dentro de um relacionamento abusivo. Suas expressões transmitem o cansaço de alguém que precisa carregar o mundo sem as condições necessárias para isso.
"Transtorno Explosivo" é como uma bomba-relógio. A cada mudança de comportamento da protagonista, tem-se a sensação de que algo vai sair do eixo e causar uma explosão afetiva. E assim acontece. Vale destacar que Benni foi abandonada pela mãe, que tem mais dois filhos menores, e vive sendo expulsa de abrigos infantis. O motivo é um só: a garota tem acessos incontornáveis de raiva.
O longa, além de ter sido vencedor do prêmio de contribuição artística Alfred Bauer no Festival de Berlim, também levou o Prêmio de Melhor Filme pelo Júri da 43ª Mostra Internacional de São Paulo em 2019, bem como foi o representante da Alemanha na corrida pelo Oscar.
Serviço: O filme pode ser visto nas plataformas Telecine e Globoplay
JS
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