Temas sociais marcam candidatos ao Oscar 2019 de melhor filme
Por ALECE21/02/2019 14:26
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Livraria Cultura promoverá debate sobre a premiação neste sábado (23/02); saiba ainda como acompanhar o Oscar 2019 no domingo (24/02)
Salomão de Castro
Desde que foram divulgadas as indicações ao Oscar 2019, no dia 22 de janeiro, o longa mexicano Roma, de Alfonso Cuarón, surgiu como um dos favoritos ao prêmio, pelas dez indicações que somou, dentre elas a de melhor filme. A grande questão que surgiu passou a ser uma: qual seria seu principal adversário na disputa pelo prêmio principal? Os prognósticos indicam que, dentre os oito indicados, quatro deles, com forte conotação política e abrangência social, podem ameaçar o favoritismo do longa de Cuarón.
Com dez indicações ao prêmio (mesmo número obtido por Roma), A Favorita, do diretor grego Yórgos Lánthimos, narra uma cruel disputa de poder na Inglaterra do século XVIII. A rainha Ana (Olivia Colman) surge como centro de uma trama em que duas mulheres disputam a primazia por influenciá-la nas decisões executivas: Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz), e Abigail (Emma Stone), a nova criada real. Trata-se de uma trama saborosa, de diálogos ácidos, humor corrosivo e com uma ótima reconstituição de época, que justifica grande parte das indicações obtidas. A direção intensa de Lánthimos, a excelente fotografia e o trio de atrizes, lembradas nas indicações, formam um conjunto capaz de levar a Academia a conceder a A Favorita o prêmio principal.
Outro forte candidato é Vice, do diretor estadunidense Adam McKay. Ele foca no vice-presidente dos Estados Unidos de 2001 a 2009, Dick Cheney (Christian Bale, indicado ao Oscar de melhor ator). A trama procura mostrar como Cheney exerceu influência incomum para um político que exercia aquela função, exorbitando suas atribuições, com a concordância do então presidente, o republicano George W. Bush (Sam Rockwell, candidato ao prêmio de melhor ator coadjuvante). Com oito indicações ao prêmio, o longa aposta no humor corrosivo e na metalinguagem ao retratar a trajetória de Cheney desde a juventude até a chegada à Casa Branca, sede do governo federal estadunidense, sempre com a influência da esposa Lynne (a indicada ao prêmio de melhor atriz coadjuvante Amy Adams). Apesar das suas qualidades, Vice parece ter perdido fôlego na temporada, mas Christian Bale foi bem-sucedido nas premiações de diversas entidades, dentre as quais o Globo de Ouro de melhor ator (comédia ou musical).
Racismo em pauta
A edição 2019 do Oscar traz ainda dois filmes que pautam explicitamente a questão racial nos Estados Unidos. Além do filme sobre super-heróis Pantera Negra, de Ryan Coogler, disputando o prêmio principal com um protagonista afro-americano e elenco predominantemente formado por atores negros, o tema norteia dois fortes concorrentes à principal categoria: Green Book - O Guia, de Peter Farrelly, e Infiltrado na Klan, de Spike Lee. A diferença no tom de abordagem gera avaliações distintas sobre os filmes.
Green Book traz a jornada do motorista ítalo-americano do Bronx, Tony Lip Vallelonga (Viggo Mortensen), que, em 1962, é responsável por conduzir o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) em uma turnê que percorre os Estados Unidos de Manhattan ao sul do país, sendo necessários procedimentos variados nas regiões do país onde os afro-americanos eram perseguidos. Parte da crítica especializada apontou que o tom do filme é leve para abordar o tema, o que gerou reações negativas pelo tom adocicado com que o diretor e co-roteirista Farrelly conduz a trama. Isso não impediu que o filme fosse bem-sucedido em diversas premiações, dentre as quais o Globo de Ouro, do qual saiu laureado com os prêmios de melhor filme dramático, roteiro e ator coadjuvante (Mahershala Ali, favorito ao Oscar na mesma categoria). O longa tem cinco indicações, dentre as quais a de Mortensen como melhor ator, e tem potencial para conquistar o maior prêmio.
Já em Infiltrado na Klan, o veterano cineasta Spike Lee trata a questão racial de forma contundente, a exemplo de outros títulos de sua carreira, como Faça a Coisa Certa (1989) e Malcolm X (1992). Na trama, passada em 1978, no Colorado, o policial negro Ron Stallworth (John David Washington) consegue se infiltrar na Klu Klux Klan local, por meio do policial judeu Flip (Adam Driver), passando assim a desenvolver um plano contrário aos interesses do grupo racista, sabotando-o internamente. Não há aqui tons suaves: o filme é bastante contundente na denúncia social, mas pode ser igualmente aproveitado como uma saborosa trama policial. É o seu encerramento, no entanto, que amplia a crítica política, fazendo uma ligação entre o período em que a trama se passa e os Estados Unidos de hoje. Embora tenha alcançado poucos prêmios na temporada que antecede o Oscar, trata-se de um dos filmes mais interessantes da temporada - senão o mais. O filme tem outras cinco indicações, dentre elas melhor diretor, ator coadjuvante (Adrian Driver) e roteiro adaptado. Sua vitória seria bastante arrojada para os padrões de Hollywood. Não custa sonhar.
Saiba mais
Neste sábado (23/02), o CosmoNerd e a Livraria Cultura promoverão um evento falando sobre as apostas para a premiação. Serão realizados painéis com convidados relativos aos indicados nas principais categorias, das 14 horas às 18 horas. Mais informações no link https://www.facebook.com/events/400877027353872/
A cerimônia de entrega do Oscar de 2019 será neste domingo (24/02) com início às 22 horas pelo horário de Brasília, pela TV, de forma fechada e aberta. O Oscar será transmitido pelo canal pago TNT, que inicia a exibir o tapete vermelho já às 21 horas. A premiação começa às 22 horas e será transmitida na íntegra pelo canal. A apresentação será de Bruna Thedy e os comentários de Michel Arouca. No tapete vermelho, os apresentadores serão Carol Ribeiro e Hugo Gloss.
O Oscar será transmitido também pela Rede Globo. Na emissora, a transmissão vai iniciar com alguns prêmios já entregues, por começar apenas após o programa Big Brother Brasil 19. A apresentadora, por mais um ano, será Maria Beltrão e os comentaristas serão Artur Xexéo e Dira Paes.
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