Professor diz que políticos comprometidos com a verdade são solução para fakenews
Por ALECE30/10/2020 12:17 | Atualizado há 1 ano
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Vacina para as fakenews são líderes políticos que tenham comprometimento com a verdade factual. Se não começa no andar de cima, não há saída, porque é diferente uma informação falsa compartilhada por uma liderança e uma mentira contada por alguém comum. Foi o que declarou o professor Emanuel Freitas, doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará, durante Webinar promovida pela Escola Superior do Parlamento, através da Célula de Qualificação dos Servidores, realizada na última terça-feira (27/10). A exposição do professor da Universidade Estadual do Ceará para os servidores da Alece aconteceu através da plataforma digital Zoom.
Para justificar o posicionamento, Emanuel Freitas lembrou a polêmica criada em torno da condenação em segunda instância, que foi avaliada, no final do ano passado pelo Supremo Tribunal Federal. Ele observou que algumas lideranças políticas e membros do Ministério Público, notadamente os vinculados à operação Lavajato, começaram a divulgar, através de veículos de comunicação e redes sociais, que 40 mil presos periculosos seriam imediatamente soltos se não fosse mantida a prisão do réu, após ser condenado em segunda instância.
“A decisão do STF manteve, por seis votos a cinco, que somente após processo transitado e julgado, sem possibilidade de recursos, que o condenado deve cumprir a pena. E cadê os 40 mil criminosos de alta periculosidade que foram soltos a partir dessa decisão? Não viu nem um sequer ser libertado”, disse Emanuel Freitas, em sua exposição.
De acordo com o professor, a fakenews assume características diferentes da simples mentira. Mas tem, na sua avaliação, um propósito, normalmente vinculado a um viés político. Emanuel Freitas recorda que há cerca de 11 anos, o jornal Folha de São Paulo publicou uma falsa ficha criminal da então candidata a presidente da República Dilma Rousseff. O objetivo era fazer circular uma falsa informação, “que apelava para um sentimento anticomunista da população. A fakenews foi dada com destaque na primeira página do jornal e o desmentido no interior, na coluna Erramos do jornal”.
Se os órgãos tradicionais de comunicação se utilizam de falsas informações para os seus fins, alegando falhas na apuração dos fatos, as fakenews, como fenômenos das redes sociais, têm, quase sempre, origem desconhecida, e “oferecem como uma alternativa ao que a imprensa diz”. Outro exemplo citado, também remonta à campanha presidencial, quando o então candidato José Serra (PSDB) teria sido atingido na cabeça por uma bola de papel, que depois foi transformada em um objeto cortante, com o sentido de dar a gravidade de um atentado à vida do tucano.
“A fakenews apela a emoção. Nem sempre é mentira, e pode tomar aspectos da realidade, para se aproximar de uma narrativa jornalística, uma pretensa informação”, acentua Emanuel. Ele conta que chegou a receber áudio, através de redes sociais, com alguém que se autoentitulava funcionário da Secretaria Estadual de Saúde.
“Ele dizia que estava pronto o decreto do governador Camilo Santana, que seria publicado em dia 16 de novembro, determinando três meses de isolamento social e que Fortaleza estaria passando por uma possível segunda onda. Se era dos bastidores da Secretaria, então o fato seria verdade, só que fakenews são sempre apócrifas e anônimas, ninguém sabe dizer onde se originou. Na certa não existe sequer o fulano de tal da secretaria. Mas se apresenta assim, para dar ares de verdade”.
Na avaliação de Emanuel Freitas, que estuda a difusão de fakenews, o aplicativo de telefones celulares Whatsapp é o espaço mais utilizado pelos propagadores de notícias falsas. “Isso porque o espaço guarda melhor os memes e esconde a autoria da fakenews”.
Outro aspecto das falsas informações, conforme avalia o professor, é ausência de diálogo com a razão argumentativa. “Elas atuam junto aos nossos afetos, que portam todas as coisas que somos capazes de sentir. A fakenews opera o divórcio entre o discurso político e os fatos. Antes o discurso era ancorado nos fatos. Agora, não há necessidade que haja acontecimentos. Não é mais requisito para a informação. É aquilo que se diz que aconteceu ou acontecerá sem vínculos com o mundo real”.
O professor observa ainda que antes, a verdade era o factual. Hoje, não mais. “Passa a ser aquilo que eu creio. Médica do Albert Einstein, defensora da cloroquina, e apoiadora do Bolsonaro, falou que a sua demissão do hospital era por causa do seu engajamento político. Mas foi desmentida. A causa da demissão foram declarações contra os judeus, proprietários da instituição. Mesmo sabendo da verdade até hoje, pessoas compartilham essa fakenews sobre o caso, inclusive políticos. Quem procurar, ainda vai encontrar essas mentiras sendo compartilhadas”.
Emanuel Freitas avalia que o setor público tem de investir maciçamente para combater as fakenews. “Elas são Falsificações das informações, provem de fontes desconhecidas, dependem das tecnologias digitais, agem em volume. A máquina do ódio conta com a experiência. Dão lucro econômico e político, para sujeitos tido como lideranças. Por isso, é necessário combatê-las, em defesa da democracia”, conclui.
A coordenadora da Célula de Qualificação de Pessoas da Unipace, Norma David, considerou que Emanuel Freitas trouxe um “diálogo bastante interessante”, para o Webinar. “Foi abordada a desinformação como fonte de poder. Foi uma exposição que mostrou qual a diferença entre a fakenews e a mentira, reforçando que a primeira é um fenômeno caraterizado pelas redes sociais de natureza puramente emocional, e também a necessidade de combatê-las para o bem de nossa sociedade”, asseverou.
JS
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