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Impactante ao extremo, "Bacurau" estreia hoje (29/08) em Fortaleza e em todo o país

Por ALECE
29/08/2019 06:35

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"Bacurau" venceu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano "Bacurau" venceu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano - Foto: Divulgação

"Ela chegou diáfana, transparente, no vestido branco que lhe descia até os pés calçados pelas ricas sandálias de pluma. Ninguém lhe ouviu os passos. Sentou-se à beira da grande piscina, cruzando as pernas longas. Chegou antiquíssima, atual e eterna, com a sua cara de máscara."

Moreira Campos - "Dizem que os cães veem coisas"

Após uma sessão de pré-estreia em que inicialmente calou - para depois gerar sucessivas catarses coletivas - um lotado Cineteatro São Luiz, na última terça-feira (27/08), o filme "Bacurau", dos cineastas Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, chega nesta quinta-feira (29/08) aos cinemas de Fortaleza e de todo o país. Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano - empatado com o drama francês "Les Misérables" - o longa tem tintas carregadas ao se passar na fictícia cidade que dá nome ao filme, alguns anos à frente da nossa época, sendo uma espécie de faroeste contemporâneo com intensa crítica social.

Numa trama sem protagonistas, em que os segmentos sociais alternam-se no comando da primazia da narrativa, sobressaem-se dois núcleos básicos de personagens: os moradores locais, dos quais a médica Domingas (Sônia Braga) e o misterioso Lunga (Silvero Pereira) surgem como líderes informais, e um grupo de assassinos estrangeiros, sob o comando de Michael (Udo Kier). O poder público, que tem à frente o prefeito Tony Jr. (Thardelly Lima), forma um terceiro eixo do roteiro - mais caricato e menos relevante que os demais.

Para quem está acostumado ao cinema de Kleber Mendonça Filho, não haverá surpresa nas situações muito mais sugeridas que explicitadas, bem como na oscilação do ritmo da narrativa - inicialmente lenta e posteriormente acelerada. Vale a pena ir ao cinema sabendo-se o mínimo possível acerca da trama. É suficiente que se diga estarmos diante de um retrato bastante alegórico (?) do Brasil de hoje, em que grupos se unem muito mais pelos ódios compartilhados que por supostas causas comuns.

Derrota prévia na disputa ao Oscar 2020

A atenção aos detalhes fará toda a diferença no acompanhar do filme, que poderá assustar aos que estavam acostumados ao tom intimista dos longas anteriores de Kléber, como "Aquarius" (2016) e "O Som ao Redor" (2012) - este último considerado pelo New York Times um dos dez melhores filmes daquele ano, situando o cineasta pernambucano ao lado de diretores como Steven Spielberg ("Lincoln"), Quentin Tarantino ("Django Livre") e Michael Haneke ("Amor).

Mesmo com o reconhecimento alcançado com seus filmes anteriores, Mendonça não teve melhor sorte neste ano, quando "Bacurau" perdeu, nesta terça-feira (27/08) - por um voto -, na escolha da Academia Brasileira de Cinema, a indicação prévia de representante do Brasil na disputa ao Oscar de melhor filme internacional para "A Vida Invisível", do cearense Karim Aïnouz, que será exibido nesta sexta-feira (30/08), na abertura do Cine Ceará, no Cineteatro São Luiz.

Uma coisa é certa: trata-se de um filme que prescinde de prêmios e cujo impacto permanecerá muito além do momento em que chega às telas. Tal qual o conto do escritor cearense Moreira Campos citado no início deste texto, uma personagem que permeia toda a sua narrativa, já eternizada, poderá também eternizar “Bacurau”: a Morte.

Serviço: “Bacurau”. (Brasil/França, 2019). Direção: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Com Sônia Braga, Silvero Pereira, Udo Kier, Rodger Rogério e outros. Estreia nesta quinta-feira (29/08). Confira cinemas e horários disponíveis no link https://www.ingresso.com/fortaleza/home/filmes/bacurau

Texto: Salomão de Castro

 

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