Brasil poderia estar vacinando 10 milhões de pessoas por dia, segundo pesquisadora Lígia Kerr
Por ALECE03/03/2021 10:32
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O Programa Nacional de Vacinação brasileiro consegue imunizar 10 milhões de pessoas em um único dia. Em cerca de um mês é possível vacinar toda a população. No entanto, estamos há dois meses vacinando e não chegamos a 10 milhões de vacinados. Foi o que revelou a médica Lígia Kerr, durante Webinar com o tema ''A crise na Ciência Brasileira e os efeitos na pandemia'', apresentada por meio de plataforma Zoom pela Escola Superior do Parlamento Cearense (Unipace), através da Célula de Qualificação dos Servidores, nesta terça-feira (02/03).
A expositora desta semana é pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC), integrante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), e também titulada com pós-doutorado na Universidade de Harvard e na Universidade da Califórnia (São Francisco), ambas nos Estados Unidos. Ela atua há mais de 30 anos como pesquisadora de saúde. Integrou, ainda, o Grupo Técnico do Eixo Epidemiológico do Plano Operacional da Vacinação contra Covid-19 que assessorou o Governo Federal na elaboração do Plano Nacional de Imunização.
Durante a exposição, Lígia Kerr revelou que os investimentos em pesquisa científica caíram de R$ 13,97 bilhões em 2015, para R$ 5 bilhões em 2020. Com relação ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação, a queda orçamentária foi de 31,69%, ficando em R$ 8 bilhões em 2021. No mesmo período, no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as verbas caíram de R$ 1,2 bilhão em 2020 para R$ 560 milhões em 2021. “A Pesquisa brasileira, nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, registrou quedas fantásticas de investimentos”, alertou a professora, o que segundo ela, agravou as dificuldades do desenvolvimento de estudos.
“Nós vamos pagar o preço na ignorância no futuro. Os cortes têm prejudicado a reação à pandemia. O Orçamento de 2021 condena a ciência brasileira a um estado vegetativo. Hoje, qualquer programa de televisão fala de ciência, por conta dos estudos já realizados pelo campo científico. A epidemiologia, antes, precisava ser explicada didaticamente. Hoje todo mundo sabe o que é, entende o que são os grupos de risco, os gráficos de infecção no tempo. Tudo vem dessa área”, avisa a professora, destacando a importância do campo científico para a sociedade.
Ações no campo acadêmico
As universidades brasileiras, segundo afirmou Lígia Kerr, estão empenhadas em buscar remédios e condições de tratamento, mas estão debilitadas porque não há apoio nem aporte de recursos suficientes. O parque industrial farmacêutico tem enormes desafios e recursos escassos. Ela lembrou que no início da pandemia alunos e professores passaram a produzir álcool em gel, para suprir a escassez. Vários setores da universidade, fechados pelo isolamento social, abriram para produzir faceshield (escudo facial, item de equipamento de proteção individual que visa proteger o rosto inteiro do usuário de riscos como objetos voadores e detritos da estrada, respingos de produtos químicos ou materiais potencialmente infecciosos). A Escola de Saúde Pública do Ceará desenvolveu o capacete elmo reduzindo em 60% a necessidade de leitos de UTI.
De acordo com a pesquisadora, 50 mil cearenses que nunca saíram do isolamento, desde o início da pandemia, e evitaram a doença. “Se não tivesse sido feito nada, a curva ascendente de contágio seria estrondosa. Com o lockdown, a curva foi achatada e houve muitos menos casos. O isolamento e o uso de máscara são extremamente importantes para o controle da epidemia”, defendeu.
Lígia Kerr acentuou que mesmo assintomáticos, muitos contaminados passam a ter problemas de cognição, de memória e perdem parte de suas habilidades. Segundo afirmou, 46,3% dos pacientes que tiveram de passar por ventilação mecânica não sobreviveram.
Desigualdade social
Os estudos apresentados por Lígia Kerr mostram que os mais pobres foram os mais infectados pela doença. “Em Fortaleza, na Regional 2, que inclui o bairro Aldeota, 7% da população foi contaminada. Quando se vai para os bairros mais afastados há mais casos. No Pirambu, os casos alcançam quase 25% da população. Muitas pessoas morreram em casa. A UPA do Cristo Redentor foi um desastre, eram cenas de terror, cenário de guerra”, relatou.
Os estudos apontam também que quanto mais alto o nível de escolaridade, mais baixo o nível de contágio, bem como que pessoas com mais renda trabalham em home office. Já pessoas da raça negra são mais vulneráveis. “Em todos os parâmetros, em todas as faixas etárias, os negros são mais vulneráveis” acentuou.
Fake news
A falta de recursos não é o único problema no enfrentamento da pandemia. Outro grave problema percebido pelas instituições científicas foi a produção de fake news. A professora adverte que a hidroxicloroquina não deve ser usada como prevenção ou tratamento da Covid-19. Em casos graves, o medicamento inócuo pode matar por arritmia. “Estudo de 26 de fevereiro da Fiocruz do Amazonas com 3.046 moradores de Manaus aponta que 26% dos que foram contaminados não tomaram medicamentos para prevenção, enquanto 38,5% dos que tomaram medicamentos supostamente preventivos foram infectados. “Ou seja, adoecem mais os que fazem uso de terapia inócua porque baixam a guarda, param de usar máscara e aglomeram”, atestou.
Entre as mentiras espalhadas através de redes sociais está a de a que vacina teria um chip líquido para controlar os pacientes. “É a coisa mais esdrúxula que já foi dito. Outra mentira é que vai alterar DNA. Se a vacina fizesse isso, o vírus também faria”, avaliou. Segundo afirmou Lígia Kerr, a ideia é colocar desconfianças a respeito de qualquer estudo ou prática científica. A pesquisadora obserou que a vacina foi produzida em tempo recorde, porque houve o financiamento. ”Jogaram bilhões de dólares no desenvolvimento das vacinas. Tínhamos experiência acumulada de 40 anos”, pontuou.
JS
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