Semana em homenagem aos 50 anos do martírio de Frei Tito terá sessão solene na Alece
Por Júlio Sonsol, com informações do Malce e Câmara Municipal de São Paulo08/08/2024 11:52 | Atualizado há 3 meses
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Há 50 anos, mais precisamente no dia 10 de agosto de 1974, foi encontrado enforcado o corpo do cearense frei Tito de Alencar na cidade Éveux (França), onde estava exilado, após ter participado ativamente da luta pela democracia brasileira e contra o regime militar de exceção.
Na Alece, frei Tito dá o nome a um relevante escritório de defesa de direitos humanos, fundado em junho de 2000. O Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar (EFTA) é um órgão permanente de promoção à cidadania, em funcionamento na Casa, atuando na assessoria jurídica popular.
As cinco décadas da morte de frei Tito de Alencar serão lembrados em sessão solene da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) que ocorre nesta sexta-feira (09/08), no auditório Deputado João Frederico Ferreira Gomes, localizado no anexo II da Casa, a partir das 9 horas. A solenidade atende a requerimento dos deputados Renato Roseno (Psol) e Larissa Gaspar (PT). O evento faz parte da semana de homenagem ao martírio do religioso.
Paulo Roberto Nunes, coordenador do Memorial Deputado Pontes Neto (Malce) órgão da Alece que trabalha pelo desenvolvimento de ações de preservação histórica e cultural do Poder Legislativo, considera a data um "momento histórico". Segundo ele, a vida do homenageado está relacionada a tudo que fez em prol da democracia brasileira.
"Ele lutou contra a ditadura, foi perseguido pelo regime e faleceu em decorrência da perseguição realizada pela ditadura. O Frei Tito é um daqueles personagens históricos de quem temos muito o que aprender para que tomemos melhores decisões e construamos um futuro melhor. Essa perspectiva é não só do ponto de vista social, mas é também sim e especialmente do ponto de vista político. Todos nós somos seres políticos e Frei Tito contribui muito para o nosso aprendizado", acentua o coordenador do Malce.
Além da sessão solene, que será realizada nesta sexta-feira, Frei Tito também será também homenageado com uma alvorada na alameda principal do Cemitério São João Batista, a partir das 8 horas do sábado (10/08) e serão realizadas palestras "Testemunho de Frei Tito de Alencar Lima", de 12 a 23 de agosto, nas escolas públicas estaduais e municipais.
Trajetória
Nascido em Fortaleza, em 1945 e falecido em 1974, Frei Tito atuou na promoção da educação de qualidade no Brasil, na Juventude Estudantil Católica, e foi preso ao participar de um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1968. Com frades dominicanos, atuou em um grupo de resistência à ditadura militar. Apesar de ser acolhido na França, não resistiu aos danos psicológicos causados pelo período de tortura e cometeu suicídio em 10 de agosto de 1974. O frei dominicano se alinhou com o Concílio Vaticano II, e associou o seu trabalho com as lutas sociais em prol da vida da população mais pobre que aconteciam em meio ao regime de força da ditadura militar.
Frei Tito, como ficou conhecido, era frade dominicano e estudou com padres jesuítas. Foi ordenado sacerdote em 1967 e iniciou sua militância na União Cearense de Estudantes Secundaristas e na Juventude Estudantil Católica (JEC). Estudou filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e foi preso em 1968, sob acusação de ter alugado o sítio onde ocorreu o 30° Congresso da Une, em Ibiúna, São Paulo. Preso novamente em novembro de 1969 em companhia de outros dominicanos, os religiosos foram acusados de terem ligações com a Ação Libertadora Nacional (ALN) e seu dirigente Carlos Marighella.
Paulo Roberto Nunes, coordenador do Malce, destaca a trajetória de Frei Tito de Alencar - Foto: Dário Gabriel
De acordo com o documento da Comissão da Verdade Rubens Paiva, instaurada para restabelecer a verdade sobre os crimes do regime de exceção, Frei Tito foi torturado por 40 dias pela equipe comandada pelo delegado Sérgio Fleury e transferido para o presídio Tiradentes, onde permaneceu até 17 de dezembro de 1970. Após a data, foi levado para a sede da Operação Bandeirantes (Oban), posteriormente reorganizada como Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
Além do pau de arara, o Frei foi submetido a choques elétricos, socos, pauladas e enfrentou um corredor polonês, sendo queimado com cigarros. Tentou suicídio com uma lâmina de barbear e foi conduzido ao Hospital do Exército. O relato das torturas sofridas foi redigido por ele e anexado ao seu caso na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Homenagem póstuma
Em reconhecimento pela história de resistência e enfrentamento à ditadura militar, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou, em 25 de abril de 2021, o Projeto de Lei 243, que tramitou por oito anos na Casa Legislativa, nomeando de Rua Frei Tito a atual Rua que levava o nome do torturador Doutor Sérgio Fleury, na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo.
A proposta foi apresentada pelos vereadores Orlando Silva (PCdoB), Arselino Tatto (PT), Antonio Donato (PT), Alfredinho (PT), Jamil Murad (PCdoB), Juliana Cardoso (PT), Reis (PT) e Professor Toninho Vespoli (PSOL). “A alteração da denominação é um ato de grande representatividade já que visa reparar historicamente uma homenagem que considero totalmente equivocada ao delegado Sérgio Paranhos Fleury, personagem que nenhum orgulho traz à cidade de São Paulo e que, inclusive, contribuiu para as crueldades cometidas contra Frei Tito”, afirmou o vereador Arselino Tatto.
"A mudança do nome era reivindicação antiga dos frades dominicanos, que há anos pediam essa substituição em São Paulo. É a cidade onde o Frei Tito viveu muitos anos e foi torturado. Era inaceitável que tivesse uma rua com o nome de um torturador notável, cruel e bárbaro, como foi o Fleury, ainda nos dias de hoje”, afirmou Frei Betto, amigo de ordem do Frei Tito e responsável pela publicação do livro “Batismo de Sangue”, que conta as torturas sofridas pelo frade e outros colegas de ordem na época da ditadura militar.
Conteúdo digital: Leonardo Coutinho
Edição: Salomão de Castro
Núcleo de Comunicação Interna da Alece
Email: comunicacaointerna@al.ce.gov.br
Telefone: 85.3257.3032
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